O legado que o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) deixará na área do turismo será grandioso. E, possivelmente, para sempre. A entidade é parceira da Prefeitura de Bento Gonçalves, que lidera a elaboração de um projeto ao lado de outras prefeituras da região e pretende ser o mais novo roteiro turístico envolvendo o município: a Rota dos Capitéis – Caminhos da Imigração e Fé.
A apresentação da iniciativa, de caráter regional, ocorreu na noite da ultima segunda-feira (29) na sede da entidade empresarial, com a participação de representantes das outras prefeituras inicialmente vinculadas ao projeto, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, Santa Tereza e Garibaldi. “O turismo sempre foi tratado como uma das bandeiras desta gestão, mas a pandemia nos forçou a sermos mais um agente de proteção à atividade do que de fomento. Agora, realmente conseguimos ser efetivos na nossa proposta, com um grande projeto para estimular a atividade, criando um novo roteiro turístico e potencializando outras ações como o enoturismo, o agriturismo e o turismo de aventura”, comemora o presidente do CIC-BG, Rogério Capoani.
Erguidos por imigrantes italianos e seus descendentes nas estradas do interior da região, os pequenos templos religiosos embasam um roteiro que evocará, além da fé, a própria história dos habitantes que ajudaram a colonizar a Serra, a partir de fins do século 19.
Sua concepção está ancorada em três estudos que notabilizaram o costume desse povo em homenagear seus santos por meio da construção de templos. Dois deles são de autoria do jornalista Fabiano Mazzoti. “O Livro do Capitel”, com o mapeamento dos capitéis erigidos no território da antiga Colônia Dona Isabel, hoje representada por Bento, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, e “Amém, Bento Gonçalves – Igrejas e capelas desta terra”. O outro é “Perto das Estrelas”, um trabalho do Circulo Trentino di Garibaldi que traça a existência dos pequenos santuários na antiga Colônia Conde D’Eu – hoje Garibaldi –, além de Carlos Barbosa e outros municípios.
É a junção de todos os templos mapeados nesses projetos de pesquisa, incluindo capitéis e pequenas igrejas, grutas e capelas, que formará o roteiro. No futuro, a ideia é abranger 10 cidades – além das citadas, Coronel Pilar, Imigrante, Boa Vista do Sul e Farroupilha –, envolvendo uma trilha que totalizará 806 quilômetros e passará por mais de 180 santuários. “Vai ser nossa Santiago de Compostela”, diz o 2º vice-presidente de Serviços do CIC-BG, Adriano Miolo, comparando a distância do novo roteiro ao famoso caminho percorrido por peregrinos de todo o mundo entre a França e a Espanha.
Miolo, um dos integrantes de um comitê do CIC-BG para debater o turismo, conta que o projeto nasceu como uma forma de aproveitar a riqueza paisagística do interior de Bento, bastante identificada com o enoturismo. Ao surgir o elemento identitário da imigração nas conversas, veio à tona a religiosidade, um dos aspectos mais fortes da cultura legada pelos imigrantes na região, ao lado do trabalho e da produção de uvas. “É um aspecto de muita expressividade dentro da nossa cultura. Quando percebemos que havia um trabalho de pesquisa na área, pensamos em juntar tudo isso num grande percurso, voltado a caminhantes, corredores, ciclistas e também para percorrer de carro. Nosso objetivo é que seja desenvolvido um turismo sustentável”, diz Miolo.
Para o secretário de Turismo de Bento Gonçalves, Rodrigo Parisotto, o projeto também aproxima os municípios numa forma de interligá-los e impulsionar ainda mais o turismo na região. “Pensamos num projeto para que Bento, como cidade indutora, integrasse com outras cidades próximas desse roteiro, pois todas têm inúmeros atrativos”, diz Parisotto. O prefeito do município, Diogo Siqueira, lembrou quando Capoani e Miolo o procuraram para apresentar o projeto de uma rota turística regional. “Não era simples de fazer, não, era preciso um convencimento com os municípios vizinhos”, conta. “Essa ideia criou uma novidade, um novo atrativo, com o patrimônio histórico-cultural que é próprio da região, com vários municípios sendo beneficiados”, comenta Siqueira.
Dentro dessa grandiosa malha viária da fé, a intenção é criar diversos roteiros e microrroteiros para que eles possam facilitar a incursão dos turistas pelo interior. “Será um roteiro turístico de valorização ao patrimônio religioso local, a partir da identificação de que o capitel é um elemento peculiar de nosso território”, observa Mazzotti.
E a fé é o que interliga cada cidade presente nesse projeto. “A fé inabalável e o trabalho de sol e sol foram pilares que sustentaram e impulsionaram a construção da nova pátria pelos imigrantes”, comenta a integrante do Circulo Trentino di Garibaldi e uma das pesquisadoras do livro “Perto das Estrelas”, Edi Mattuella Debenetti.
Com a apresentação do projeto, começa uma nova etapa de trabalho. Agora, se inicia a busca por parceiros que viabilizem a concretização da Rota dos Capitéis com diferentes ações, como sinalização nas vias e instalação de totem padronizado com informações dos templos. “Agora começa a mobilização com diferentes frentes para o desenvolvimento de um trabalho turístico-cultural com evolução para o agriturismo”, pondera Mazzotti.
Por ser um projeto coletivo, essa também será a forma principal de atuação do CIC-BG para o projeto avançar. Além de empresas que já manifestaram interesse em contribuir com a Rota dos Capitéis, outras organizações serão convidadas a aderir à proposta, integrando forças para a construção de um novo projeto dentro do turismo da Serra. “Vamos precisar da união de esforços, esse é um trabalho conjunto que envolve empresas, entidades, poder público e a comunidade. A idealização pode ser nossa, mas o projeto é de todos”, diz Capoani.
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