Depois de registrar uma redução recorde no montante da dívida dos inadimplentes em 2020, quando o recuo foi de 18,1%, o comércio de Bento Gonçalves computou um cenário de estabilidade em 2021, de acordo com os dados divulgados pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BG).
O déficit dos consumidores com o varejo (incluindo contribuintes em débito com a prefeitura) é praticamente o mesmo do registrado em 2020. O ligeiro declínio, de apenas 0,88%, traz os reflexos do quadro mais estável da pandemia no ano passado, principalmente a partir do segundo semestre, com o avanço da vacinação. “O ano de 2020 foi turbulento, ora empresas não podiam operar, ora o funcionamento era restringido. Esse quadro fez o consumidor frear o consumo, porque havia muita instabilidade”, analisa o presidente da CDL-BG, Marcos Carbone. “Já em 2021 tivemos períodos mais longos de uma certa normalidade, o que devolveu o comportamento mais típico do consumidor. Mas há uma outra questão que vejo como principal: a base comparativa com 2020, que foi muito fora da curva”, prossegue Carbone.
Esse raciocínio segue a lógica de outro dado díspar mostrado na pesquisa, o dos registros ativos no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Em 2020, o número de inadimplentes caiu 13,2%. No ano passado, também houve recuo, mas bem menor, de 2,36%. Ainda assim, esse foi o terceiro ano consecutivo de queda no número de casos no SPC – em 2019, a retração foi de 6,25%.
A maior fatia dos registros no SPC, aponta o levantamento, é oriundo de pessoas físicas. Em 2021, o quadro se manteve praticamente estável, com esse tipo de público sendo responsável por 92,70% dos casos, um leve aumento de 0,78 pontos percentuais em relação ao ano passado. Entre as pessoas jurídicas, houve redução nos registros de 6,92% para 6,24%.
Perfil dos cadastros
Assim como registrado em 2020, a maioria dos insolventes continuam a dever para o comércio um ticket médio que varia de R$ 100 a R$ 250. O que mudou, no entanto, foi o aumento de 28% no contingente de devedores nessa faixa, saltando de 27,33% para 35%.
Mas foi dentro do público devedor de valores que vão de R$ 250 a R$ 500 que ocorreu o maior acréscimo. Se em 2020 apenas 12,31% do total dos insolventes estavam devendo esse ticket, em 2021 esse índice pulou para 20,75%, ou seja, um aumento de 68,5%. Por outro lado, houve redução entre aqueles que devem as maiores quantias. A queda na fatia dos consumidores que estão com débitos acima dos R$ 500 foi de 23%, passando de 19,82% para 15,25%.
Os números da inadimplência apresentados pela CDL-BG também mostram que as mulheres não estão apenas mais endividadas do que os homens, como tiveram um exponencial crescimento na liderança dessa estatística. A quantidade de mulheres inadimplentes saltou de 55,71% para 75,47% – um acréscimo de 35,2%. Em parte, isso se explica pelo comportamento de consumo das famílias. “As mulheres são as que mais compram, e compram para toda a família. Em 2021, diferentemente de 2020, as condições melhoraram e houve mais consumo. Então, necessariamente, não significa que a dívida seja só delas, mas da família como um todo”, opina Carbone.
Uma das mudanças mais significativas em relação ao perfil dos endividados neste novo estudo encontra-se na mudança da faixa que mais concentra dívidas. Agora, quem mais deve são as pessoas entre 40 e 49 anos, respondendo por 25,07% do total – 18,6% a mais do que em 2020. Os líderes nesse quesito até então, os adultos de 30 a 39 anos, passaram para a segunda colocação. Eles reduziram em 28% sua presença na lista, caindo de 31,83% para 22,89%. Entre os idosos com mais de 65 anos, os índices se mantiveram nos mesmos patamares, de 6,76% para 6,63%.
A maioria dos casos envolvendo o tempo de inadimplência é de registros de dois a três anos, com 23,02% do total. Logo depois, seguem aqueles que estão em débito de um a dois anos (20,14%). Muito próximos um do outro são os que estão no SPC entre três e quatro anos (16,79%) e os que contraíram dívida no período de nove a 12 meses (16,62%).
Inadimplência cai pouco também no país
No Brasil, conforme dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, embora o país tenha fechado 2021 com recorde de famílias endividadas (média de 70,9%, a maior da série histórica iniciada em 2010), houve uma pequena redução na inadimplência.
Conforme o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de famílias com contas em atraso caiu 0,3 ponto percentual, de 25,5% para 25,2%. Entre o tipo de dívida mais citada aparece o cartão de crédito (82,6%), seguido por carnê (18,1%) e financiamento de automóvel (11,6%).
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