Por Rogério Gava
No princípio, era o “nada”.
O absurdo da não-existência de tudo.
Ou melhor, de quase tudo, pois, dizem os cientistas, todo o universo estava então comprimido em um átomo. Estonteante pensar. Impossível compreender. Mas parece que assim foi.
Eis que em um trilionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo (pelo menos é o que se presume) esse átomo se expande ao tamanho de uma bola de futebol (o que se chama de inflação cósmica). Todo o cosmos em uma pelota. Fervendo a uma temperatura de dez trilhões de trilhões de graus (mais números inconcebíveis). Começava, assim, efervescente, a nossa história.
Um segundo após essa loucura universal surgem os primeiros prótons e nêutrons. E assim ficarão, solitários, por longos trezentos e oitenta mil anos. Até entrarem em cena os primeiros átomos, combinações simples de Hidrogênio e Hélio.
Estamos agora na “época da recombinação”, há treze bilhões e oitocentos milhões de anos. O universo é um todo transparente. Totalmente imerso na mais inimaginável escuridão. A luz ainda não surgiu. Uma idade das trevas cósmica. Absurdamente sombria.
Uns meros duzentos milhões de anos se passam e aparecem as primeiras estrelas e galáxias, essas mães aglutinadoras. A luz se faz presente. Essa luz que dá forma ao mundo. Esse milagre que dá sentido a tudo o que concebemos. Fez-se a luz – Fiat Lux! E com ela a vida.
Passarão quase dez bilhões de anos para a ignição cinematográfica do Sol. Depois, os planetas, dentre eles a nossa Terra. De quem mais tarde se desgarraria a Lua. O Sistema Solar, nosso endereço cósmico, caixa postal da humanidade, está formado.
No pontinho pálido, terceiro planeta a contar da estrela-mãe, um caldo começa a ferver. Por três bilhões de anos apenas organismos unicelulares pululam nessa sopa, berçário dos seres vivos. E então, seiscentos milhões de anos correm, e os primeiros organismos pluricelulares aparecem. A complexidade ganha espaço.
Nos próximos duzentos milhões de anos a vida seguiria totalmente submersa. Nenhum sopro de existência a animar as porções de terra. O tempo escoa, e com ele uma tímida e pequena vegetação costeira começa a surgir. Era o princípio da vida na superfície.
Répteis são os primeiros vertebrados a se arriscarem para fora da água. Depois deles, os corajosos anfíbios e os antepassados dos mamíferos. Será por “pouco tempo”: todos desaparecem quando os dinossauros dominam o cenário. Esses serão os reis absolutos da Terra por cento e quarenta milhões de anos. Até sumirem por completo, quando, há sessenta e cinco milhões de anos, um meteoro gigantesco explode onde hoje é o Golfo do México. A Terra é trevas novamente.
Aos poucos, volta a vida. Oportunidade para os mamíferos – descendentes dos répteis – voltarem à cena. Dos mamíferos aos primatas, foi um “pulo”. E deles para nossos parentes hominídeos. Andar de quatro, andar bípede. Polegar opositor. Homem de Neandertal, só para citar algumas marcas dessa epopeia. Um romance de sessenta milhões de anos que desembocou no Homo Sapiens.
Nesse panorama, cem mil anos não são nada.
Dez mil anos não são nada.
Dois mil anos que nos separam do Cristo não são nada.
No grande relógio cósmico somos seres do último milésimo de segundo.
Na “grande história” somos figuras insignificantes.
Motivo para a humildade.
Motivo para saber que nada sabemos de nada.
Motivo para nos maravilharmos com o “Grande Mistério”.
A “Odisseia da Vida” segue seu curso…indiferente a nós.
Até quando?
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