As questões envolvendo infraestrutura e recursos foram os principais apontamentos para a retomada econômica do Estado entre os painelistas participantes da segunda edição do ano do projeto Mapa Econômico do RS, do Jornal do Comércio. No Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), os empresários Clovis Tramontina, Daniel Panizzi e Gelsi Belmiro Thums, no entanto, foram categóricos em afirmar que o Estado não só se recuperará como sairá fortalecido de sua maior crise climática da história. O encontro ocorreu no fim da tarde de quinta-feira (15).
Durante cerca de uma hora, eles abordaram desafios e oportunidades para setores como metalmecânico, vinícola e agronegócio no evento que radiografa as principais cadeias produtivas regionais. O debate, mediado pelo editor-chefe do JC, Guilherme Kolling, se centrou na temática “Desafios para a Retomada Econômica do RS e Tendências de uma Economia em Transformação”, discutindo o desenvolvimento das regiões Serra, Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Vales do Paranhana e do Caí.
Para Tramontina, é preciso ação. “O governo federal tem que mandar dinheiro novo. Até agora, ofereceram restituição do imposto de renda e fundo de garantia, que são nossos (empresários), e empréstimo para empresas que têm crédito. Quem não tem crédito, não está recebendo nada. Temos 45 mil empresas com até 19 funcionários no Rio Grande do Sul, como eles vão se recuperar com o juro que estão querendo cobrar? É preciso carência de três anos no mínimo e 10 anos para pagar, com juros subsidiados, porque senão eles não vão se recuperar”, disse o diretor do Conselho de Administração da Tramontina no Estado e vice-presidente da Fiergs.
Presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Panizzi disse que a crise impactou tanto as famílias produtoras de uva – são cerca de 20 mil – quanto a cadeia enoturística. “Foram perdidos 500 hectares, ou seja, 200 famílias perderam o seu sustento. No Vale dos Vinhedos, 80% das vinícolas dependem do turismo. Estima-se que o setor, hoje, é composto de 70 segmentos, que juntos representam 10% do PIB do Estado. Economicamente, é um setor muito importante. Somente em maio, o setor estima que houve cerca de 60% de cancelamentos ou suspensões, o que representou uma queda de faturamento de R$ 120 milhões apenas no mês”, comentou Panizzi.
O presidente da Cooperativa Santa Clara, Gelsi Belmiro Thums, comentou que é desafiador manter uma propriedade leiteira, tanto que o número de famílias dedicadas à atividade caiu de 80 mil para 30 mil em oito anos. “E com esse cenário que a gente viveu, nós vamos perder mais famílias ainda. A atividade leiteira não é adaptável, e praticamente tudo que é consumido da porteira para dentro é através do dólar. Precisamos de uma política de agricultura familiar diferente, porque se você tem crédito, não pode tomar recursos porque os juros consomem o resultado, e se você não tem crédito, não tem onde se apegar”, constatou.
Para Tramontina, a Serra tem uma força industrial grande e diversificada – que enfrenta problema com mão de obra especializada – e uma cultura de hábitos culinários e familiares que impulsionam o turismo, sendo esse um dos caminhos para a retomada. “Temos grande oportunidade com o turismo”, destacou. Panizzi reforçou a necessidade da infraestrutura. “Precisamos de um aeroporto para acabar com a insegurança de as pessoas viajarem para cá”, disse. Thums reiterou que toda crise gera oportunidades, e que todos precisam fazer a sua parte. “Precisamos inovar, quanto mais inovamos, mais resultados podemos ter”, comentou.
Apesar de acreditar que o chamado custo Brasil (impostos e infraestrutura) seja um empecilho para a competitividade das empresas, Tramontina acredita na recuperação do Estado. “Precisamos da estrutura da porta da fábrica para fora. Mas eu acredito no Brasil, acredito no Rio Grande, só não podemos fazer o mesmo que a gente fazia antes. A situação climática do mundo mudou e nós temos que inovar. Acredito que daqui a 10 anos o Rio Grande do Sul será um Estado de ponta”, projetou Tramontina. “É da nossa essência sairmos mais fortes”, emendou Panizzi. “Muitas vezes, a crise nos faz criar, e acredito na retomada porque somos um Estado forte e com muita produção”, continuou. Thums concordou. “Apesar de tudo, ainda temos resultados. Toda crise é passageira. Não basta só cobrar dos governos, precisamos unir as instituições e criar diferenciais, porque isso se multiplica e tudo pode ser como a gente quer”, disse Thums.
A próxima edição do Mapa Econômico será no 17 de setembro, em Rio Grande, debatendo o desenvolvimento das regiões Sul, Centro Sul, Campanha e Fronteira Oeste.
Lideranças destacam projeto
Acompanhada por diversas lideranças setoriais e políticas, o evento foi saudado pelo presidente do JC, Giovanni Jarros Tumelero, que destacou o compromisso da publicação na contribuição para o desenvolvimento econômico do Estado. “Lançamos o projeto Mapa Econômico nos 90 anos do Jornal do Comércio em 2023 e, neste ano, lançamos um manifesto em defesa da retomada econômica do Rio Grande do Sul no aniversário de 91 anos para divulgar as boas iniciativas da sociedade no intuito de servir como bons exemplos a serem seguidos”, disse Tumelero.
O governador Eduardo Leite, representado no evento pelo secretário da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, enviou em vídeo um depoimento destacando a relevância do encontro. É um projeto que ajuda a olhar para cada uma das regiões, identificar suas potencialidades e debater os rumos do desenvolvimento econômico para cada uma dessas regiões. Diante do evento climático tão crítico que vivenciamos, essa inciativa é ainda mais valiosa”, disse Leite.
O presidente do CIC-BG, Carlos Lazzari, ressaltou as informações valiosas oportunizadas pelo debate. “Neste momento de reconstrução, é bastante oportuno e necessário estarmos aqui neste evento e parabenizo pela iniciativa de acreditar que juntos podemos fazer melhor”, disse.
Foto: Tiago Garziera