Com mais de mil rodadas de negócios entre vinícolas e varejistas, Projeto Comprador é destaque na programação da Wine South America, que encerra nesta sexta-feira (23)
Além de contemplar as principais novidades do universo do vinho e reunir mais de 360 marcas nacionais e internacionais, a 3ª edição da Wine South America também é palco de muitas negociações. Concomitante à feira, ocorre o maior Projeto Comprador já realizado em uma feira de vinhos. Até o final desta sexta, mais de mil rodadas de negociações irão ocorrer.
O projeto reúne cerca de 200 compradores qualificados de todo o território nacional para participarem de rodadas de negócios pré-agendadas com mais de 100 vinícolas brasileiras que são expositoras da WSA. “O Projeto Comprador é muito importante especialmente porque proporciona essa aproximação entre as vinícolas menores e os compradores. Para os empreendimentos pequenos, às vezes é mais difícil conseguir esse contato. Para os compradores, também é interessante porque eles têm acesso a marcas que talvez não conheceriam de outra forma e assim conseguem ampliar a sua rede de produtos”, destaca Jakson da Luz, analista de competitividade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), entidade que realiza a iniciativa juntamente com a WSA.
Na quinta-feira, 22, o interesse dos compradores foi o principal ponto destacado pelas vinícolas. “Participei da edição de 2019 e notei um crescimento na quantidade de compradores qualificados. Foi muito positivo, as conversas devem evoluir fora da feira”, avalia Natália Taffarel, diretora comercial da vinícola Cave Antiga, de Farroupilha.
O proprietário da Salvattore, Daniel Salvador, participou de nove reuniões nesta quinta-feira. A vinícola da Flores da Cunha também já havia marcado presença na edição de 2019. “Acredito que o vinho nacional ganhou mais respeito nos últimos anos. Notei os compradores bem interessados. É muito positivo essa troca com olho no olho. Teria certa dificuldade de encontrar o comprador de algumas marcas que hoje consegui falar pessoalmente”, relata.
Para os compradores, a iniciativa é considerada um otimizador de resultados. “As reuniões foram muito positivas. Nesse projeto, a feira concentra em um espaço curto de tempo uma grande quantidade de futuros parceiros”, analisa Éverton Silva, diretor da Bebidas do Sul.
A WSA é direcionada especialmente a profissionais do segmento, como importadores e exportadores; distribuidores e atacadistas; supermercados e hipermercados; bares, restaurantes, hotéis, padarias e lojas de conveniência; lojas especializadas em artigos de luxo; sommeliers; e varejistas especializados em vinhos e outras bebidas. A estimativa é que mais de cinco mil compradores de todas as regiões do país devam marcar presença em Bento Gonçalves, na Fundaparque, até essa sexta.
Primeiro Hacka Vitis do setor de vinhos é realizado durante a Wine South América
Uma das novidades da edição deste ano da WSA é o Hacka Vitis. O evento, voltado à inovação para o setor vitivinícola, é uma parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Por meio dele, 15 alunos da instituição estão desenvolvendo soluções para os principais desafios da cadeia. O projeto começou ainda antes da WSA, quando uma pesquisa foi realizada com vinícolas da Serra Gaúcha. Esse é o primeiro Hacka Vitis realizado com foco exclusivo no setor de vinhos.
A ideia desse levantamento prévio foi elencar os principais problemas enfrentados pelas marcas em áreas como marketing, logística, sustentabilidade, vendas, produção e compras. Com base nos desafios encontrados, os alunos se dividiram em três grupos durante a WSA e estão desenvolvendo as soluções. “Essa iniciativa cria uma conexão entre todos os pontos da cadeia. É um modelo mental que visa empreender com base em um problema real, envolvendo as vinícolas, as necessidades, a pesquisa e passa ainda por uma validação”, explica Vinicius Piva, um dos organizadores da iniciativa e gestor de inovação e tecnologia do IFRS.
Os três grupos irão apresentar seus projetos nesta sexta-feira, às 17h, para um grupo de jurados. Cada uma das equipes criou uma solução que atende a um desafio do setor. Um dos grupos, por exemplo, está desenvolvendo uma iniciativa voltada a compras de garrafa, visto que as pequenas e médias vinícolas muitas vezes enfrentam o desafio de adquirir grandes quantidades do material. Outra equipe vai apresentar uma iniciativa voltada à sustentabilidade, explicando como ações sustentáveis podem reduzir o desperdício e impactar positivamente o setor financeiro. O terceiro grupo falará ainda sobre o desafio de divulgar corretamente os selos e iniciativas sustentáveis.
O grupo vencedor do Hacka Vitis irá passar por um período de incubação no IFRS. “A ideia é que a solução vencedora passe um tempo se desenvolvendo e se aprimorando para assim ser colocada em prática no mercado”, antecipa Piva.
Descaminhos de Vinhos e Papel das Redes Sociais são debatidos no segundo dia
O auditório que sedia as Rodadas de Negócios da Wine South America ficou lotado na tarde da quinta-feira para ouvir o painel Fraudes e Descaminhos de Vinhos, conduzido por especialistas da temática. Além de representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o encontro teve a participação do Delegado da Receita Federal, Mark Tollemache, que tem atuado em operações que combatem a entrada irregular de vinhos, especialmente na fronteira do Brasil com a Argentina. Dados da Receita Federal mostram que a apreensão de vinhos nesta região tem crescido ao longo dos últimos anos. Em 2018, foram apreendidas cerca de 45 mil garrafas de vinho no País. Em 2021, este número saltou para cerca de 595 mil, um valor total de cerca de R$ 90 milhões.
O comportamento do consumidor brasileiro na internet – e quais as formas de aproximar ele do mercado de vinhos – foi debatido durante a mesa redonda “O papel das redes sociais no mercado de vinhos”, onde especialistas do setor e que atuam nos mais diversos espaços da cadeia puderam dar seu ponto de vista sobre o tema. “As redes sociais têm um papel importante para que a gente possa desenvolver um nível de consciência no povo brasileiro relacionado ao vinho. E para que possamos atrair a atenção dos consumidores de cerveja, destilados e outras bebidas a olharem para o vinho e sintam desejo de conhecer essa bebida. E claro, aos que consomem esporadicamente o vinho, que passem a consumir mais e possam migrar para outros níveis de vinho, ir além dos vinhos de entrada”, explica Tadeu Silva, Co-Fundador da EducaVinhos e mediador do encontro. “No painel ‘Raio X do Mercado de Vinhos’, que ocorreu aqui no evento no primeiro dia, grandes marcas pontuaram que hoje o Brasil tem 2.6 litros per capita de consumo de vinho e que em alguns anos, pretende-se chegar a 5 litros per capita de consumo. Então, para que isso venha a acontecer, essa evolução e o alcance desses resultados, a rede social possui um papel fundamental”, completa Tadeu.
Foto: Vagão Filmes