Apesar do crescente hábito da utilização de celulares e e-book para leitura, a publicação de livros impressos sobrevive e se estabelece através de nichos de mercado. Gabriel Elias Josende, de 27 anos, natural de Bento Gonçalves, autor de cinco livros, é um
exemplo da literatura elaborada por sua geração.
Na escrita de livros de poesias e contos, ele se contrapõe a preconceitos da sociedade em relação aos diferentes. Parte dessa minoria na pirâmide social brasileira, representada por mulheres, homossexuais, indígenas e negros, busca seu espaço. A arte da literatura está atendendo esses nichos de mercado, de forma libertadora e eficaz. Em entrevista ao Integração da Serra, Gabriel relata um pouco sobre a forma como surgiu seu amor pela leitura e escrita e também sobre suas fontes de inspiração para o processo literário.
ENTREVISTA
Cidade natal? Idade? Formação acadêmica?
Nasci em Bento Gonçalves, dia 10 de setembro de 1996. Tenho 27 anos, virginiano com ascendente em escorpião. Atualmente, curso o 7º semestre de Licenciatura em Letras pelo IFRS – Campus Bento Gonçalves.
Você é filho da Adriana Elias Josende, conceituada professora de Português e Literatura. O incentivo à leitura e à escrita, em casa, encontrou um campo fértil ou você, desde sempre, soube que a literatura seria “sua praia”?
O incentivo à literatura ocorreu desde cedo na minha casa, sim. Minha mãe, como literata, sempre presenteava meus irmãos e eu com livros. Lembro até hoje de colecionar os almanaques da Turma da Mônica. Lia muito sobre dinossauros, também, um interesse em comum de muitas crianças. Isso tudo se fez presente em minha vida desde cedo. Eu via minha mãe escrevendo poemas, publicando em antologias. Era inspirador.
Meu pai, Evandro Aranguiz Josende, também teve parte importante nesse processo. Todas as noites, ele sentava ao pé da minha cama e cantava “Paul Bunyan”, a versão clássica da Disney de 1958. Ele também contava histórias fantásticas de heróis e monstros para eu dormir. E, às noites claras, levava meus irmãos e eu para admirar as estrelas. Foi aí que surgiu esse fascínio pelo Universo e seus mistérios, que abordo até hoje na minha literatura.
Qual foi o primeiro livro publicado? Quantos anos você tinha?
Meu primeiro livro publicado foi “Três quintos”, em agosto de 2019. Eu tinha 22 anos. Contudo, minha primeira experiência com publicações foi aos 8 anos, em meados de 2005, participando de uma antologia, com o poema intitulado “A flor”, primeiro de minha autoria, por incentivo de minha mãe. Eu chamo esse episódio de “Big Bang” como poeta. Foi quando tudo começou.
Em 11 de novembro de 2023, você passou a ocupar, como Imortal, a cadeira 169 da Academia de Letras do Brasil – Seccional RS. Quais foram os critérios para a distinção?
Para me tornar Imortal da ALB/RS, precisei enviar uma carta (espécie de currículo) à minha madrinha na Academia, Maria José Silveira. Ela, que me conduziu à entidade, também precisou justificar a indicação para a posse. A ALB/RS promove ações de incentivo à literatura independente no Estado há mais de 20 anos, valorizando autores, muitas vezes, invisíveis ao público devido ao grande número de publicações no mercado.
Meu perfil foi analisado pelos Diretores da entidade, que levaram em consideração a produção literária, movimentações culturais e participações no meio artístico.
Você se define como poeta e escritor de literatura LGBTQIAP+ e publica, também, sob o pseudônimo Olympuz. Até agora, você publicou cinco livros, entre quatro de poesias e um de contos. Entre esses livros, quais são da autoria de Gabriel Elias Josende e quais são da autoria de Olympuz?
Meu pseudônimo e eu nos confundimos bastante, confesso. Por nomenclatura de capa, “Três quintos” e “Só ar, sem sono, sem ar” saíram com a autoria do meu nome próprio, enquanto “Nas asas de Ícaro”, “Feriu demais partir” e “Espectro” foram publicados como Olympuz. Isso é relativo, porém.
Adotei meu nome artístico em meados de 2022. De lá para cá, tenho utilizado ele em muitas publicações. No decorrer decidi que, a partir de “Espectro”, todos os meus livros de poesia serão publicados sob o pseudônimo Olympuz, enquanto os de prosa serão assinados como Gabriel Elias Josende. Dessa forma, o pseudônimo passa a ser do poeta. “Três quintos” fica de fora dessa conta porque ele foi lançado antes da adoção do nome artístico.
O uso de pseudônimo auxilia abordagens mais amplas em contextos LGBTQIAP+?
Na verdade, o pseudônimo invoca o Olimpo e suas Divindades, as quais cultuo há mais de uma década. Ele é mais estético e serve como uma espécie de “link”, indicando aos leitores que os versos terão conteúdo sobre mitologia grega e esoterismo.
A literatura para o público LGBTQIAP+ é um nicho de mercado a ser explorado?
Com certeza. Esse nicho tem crescido cada vez mais, graças a uma maior aceitação da sociedade e quebra de tabus. Além do mais, é muito importante para um leitor LGBTQIAP+ se enxergar nos textos que lê. Eu, como homem gay, fico muito mais tocado lendo histórias que me representem, com as quais consigo me conectar mais facilmente.
Você se declara adepto à cultura helenista e diz que essa filosofia reflete na temática de seus textos, pela invocação de deuses gregos. O que prega o Helenismo?
Sobre isso, escrevi uma carta de apresentação para um livro inédito (e não é Caça às Plêiades), que explica bem como eu lido com essa fé. Por enquanto, não posso revelar o nome dele, mas posso dizer que a maneira como cultuo os deuses é muito singular. Digo que sou helenista, sim, mas não sou um tradicional. Exerço a fé à minha maneira, aliando o Olimpo ao Universo e invocando a energia dos deuses. Engana-se quem pensa que tenho os mitos gregos como realidade. Na verdade, creio que a mitologia é uma maneira humana e limitada de traduzir essa força superior.
O que acredito, acima de tudo, é em duas máximas: que o Universo escuta e que, cedo ou tarde, a colheita de tudo o que semeamos vem. A justiça de Atena nunca falha. Por isso, procuro manter meus pensamentos elevados e semear o bem.
Além do Helenismo, você manifesta em sua arte a astronomia, a astrologia, o esoterismo e a numerologia. No estudo desses temas para embasamento de seus livros, quais foram os aprendizados mais significativos para sua carreira na literatura e para a sua vida pessoal?
Há aquela famosa frase “quem acredita, sempre alcança”. Essa máxima é real. Quando passei a vigiar meus pensamentos (sabedoria que veio também da minha mãe), muita coisa mudou na minha vida. Acredito que esse seja o maior dos aprendizados. Há magia em tudo o que dizemos e pensamos. Por isso, é preciso estar em equilíbrio.
Atualmente, há alguma obra em andamento?
Sim! Agora em março assinei contrato com a Editora Folheando, para a publicação de meu sexto livro, “Caça às Plêiades”. É uma obra bem mais adulta e que pode chocar um pouco, admito. Fora esse, há outros cinco livros já prontos, aguardando publicação.
Algo que não tenha sido perguntado que você considera importante ressaltar?
Convido os leitores para conhecer meu trabalho por meio das redes sociais. Meu Instagram é @gabrieljosende, onde compartilho minha trajetória como escritor e as novidades que estão por vir.
Aproveito e agradeço ao Jornal Integração da Serra e a sua equipe pelo convite e por esse espaço de acolhimento, respeito e propagação da cultura regional.
Desejo os melhores votos, sempre!
Foto: Acervo Pessoal