Já finalizado o mês destinado à Campanha Outubro Rosa, realizamos, no dia 24 de outubro, uma Roda de Conversa em nível de BPW Brasil, com este mesmo tema.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA (https://www.inca.gov.br/estimativa/introducao) , este é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países. A mais recente estimativa mundial, ano 2018, aponta que ocorreram no mundo 18 milhões de casos novos de câncer. O câncer de pulmão é o mais incidente no mundo (2,1 milhões), seguido pelo câncer de mama (2,1 milhões). Nas mulheres, as maiores incidências foram câncer de mama – 24,2% (BRAY et al., 2018). Para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer. O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada). O cálculo global corrigido para o sub-registro, aponta a ocorrência de 685 mil casos novos (MATHERS et al. (2003).
Os dados relativos à incidência do câncer de mama em mulheres são mesmo assustadores, no entanto, alguns dos tipos mais comuns de câncer, como o de mama, colo do útero, oral e colorretal, têm altas taxas de cura quando detectados precocemente e tratados com as melhores práticas.
Todas as ações do Outubro Rosa e outras campanhas semelhantes, costumam orientar, esclarecer, conscientizar sobre a importância dos exames para a descoberta inicial de um possível tumor, permitindo um tratamento adequado e a cura. Fundamental!
Lembramos de uma fala muito comum de se ouvir: “quem procura, acha!” e que frequentemente é pronunciada no sentido de que se evite procurar, para não achar. Um equívoco muito grande, evidentemente! Traduz uma espécie de pensamento mágico, pensamento infantil e inconsequente, pois o fato de não olharmos para algo, não faz com que este algo não exista e que não possa nos atingir. É preciso que tenhamos uma percepção mais realista e cuidadosa, especialmente no que diz respeito à nossa própria saúde. Isto não se aplica apenas às mulheres e ao risco de câncer, mas a todos e ao risco de várias doenças.
Num grupo de quatro psicólogas, naturalmente, a abordagem do Outubro Rosa recai sobre as questões afetivas e emocionais envolvidas no processo de adoecimento e recuperação do câncer de mama, na mulher acometida por ele e também na família, na sua vida profissional e rede de relacionamentos.
A predisposição ao autocuidado é um sinal de saúde mental, que aumenta significativamente o sucesso na prevenção e no tratamento precoce de qualquer doença. Neste ponto também percebemos a importância do autoconhecimento. Conhecer o próprio corpo, os sinais, os detalhes, as reações, para perceber alterações e mudanças, com atenção para o que possa causá-las.
Sabemos que muitos são os tabus associados ao conhecimento do corpo, especialmente para as mulheres, porém, como em relação à saúde física, esses tabus podem custar nossa saúde e quiçá nossas vidas. É preciso que sigamos em campanha, no Outubro Rosa e durante o ano todo.
Associadas ao surgimento e tratamento de um câncer, encontramos outras doenças coadjuvantes, como a ansiedade e a depressão, considerando que é preciso vivenciar um processo longo e doloroso, em todos os sentidos, onde nos defrontamos com os maiores medos: o de morrer, o do abandono e a dor. Vive-se muitos lutos nesses processos.
O câncer também pode ser entendido como uma doença silenciosa, que vai se desenvolvendo sem que se perceba, principalmente se não tivermos hábitos de prevenção em saúde, manifestando-se em estágio já avançado e mais difícil de ser controlado.
Importante fazer menção também a outras doenças silenciosas, que podem afetar nossa saúde, tais como o diabetes, pressão e colesterol altos, fibromialgia, depressão, ansiedade, osteoporose e tantas outras. Pessoas acometidas dessas doenças sentem grande pesar, também, por não serem compreendidas na amplitude de sua dor, fisicamente intensa, emocionalmente desorganizadora e, muitas vezes, desacreditada.
Quando sofremos de algo que não se pode ver, tocar, apontar, como acontece com as doenças emocionais, mentais e outras tantas, o sentimento de incompreensão e desrespeito é muito grande, assim como é grande a dificuldade de percepção que as outras pessoas têm sobre essas situações. O adoecimento se manifesta no comportamento, refletindo dores e problemas que não podem ser vistos, sugerindo que seja “manha”, exagero intencional, “só para se fazer notar”. Imaginemos as dificuldades…
Lembrando o texto “Aquilo que dói”, de Calunga Rita Foelker, algo muito comum, também, é estar doente do sentimento, da emoção, doente da vontade, enfim, doente “da alma”. A palavra doente, vem de doer.
Se você vive aborrecido, sem sorrir, são sintomas. Responde bruscamente, “se mata” de pensar nas dificuldades até se esgotar, você está doente. Se não consegue parar de trabalhar e pensar em trabalho, você está doente, se não quer saber nunca de trabalhar, você está doente. Se você tem pensamentos, emoções e hábitos que doem, relacionamentos que doem, você está doente.
Mas qual o motivo injusto de tanto adoecimento e dor? Pois consideremos a providência sábia da dor, que mostra que é preciso mudar, fazer algo diferente para ficar melhor. Se não doesse, não haveria razão suficiente para mudar, iríamos simplesmente levando, com a cara fechada, o aborrecimento, o desentendimento.
Vamos pensar no que é que tanto maltrata, que se carrega como um fardo pesado, como um porco-espinho espinhando por dentro. E até quando vai ser carregado? Vamos buscar ajuda, existem profissionais para nos ajudar a lidar com todas as dores, curá-las ou administrá-las da melhor forma, para poder usufruir o máximo da vida.
Pensemos na saúde, na prevenção, no autoconhecimento, nos tratamentos, como direitos que temos e merecemos ter. Vamos falar a respeito das dificuldades, buscar ajuda adequada, observar os exemplos bem-sucedidos para enfrentar nossas dores com coragem.
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