Não tenho dúvida: uma das causas de nossa infelicidade é a necessidade de aprovação alheia. Queremos que os outros nos achem bonitos, atraentes, inteligentes, bem-sucedidos, e por aí vai. Os psicólogos chamam isso de “validação externa”. Ou seja, eu, você – todo o mundo – precisamos nos sentir admirados e queridos. Aprovados no grande tribunal social. Como ensinou Freud, necessitamos, enfim, nos sentir amados.
Até aí tudo bem, pois, como diz o ditado, ninguém é uma ilha. Aliás, a psicologia justamente nos ensina que precisamos desse “olhar do outro” para nos reconhecer. É gozado, mas são as outras pessoas (família, amigos, colegas de trabalho, conhecidos) que nos ajudam a saber quem somos. Elas são como um espelho onde nos enxergamos. Enlouqueceríamos sem esse olhar que vem de fora.
Não acredita? Imagine então que pregassem a você a seguinte peça: todos combinassem, em determinado dia, ignorar a sua presença. Da manhã à noite ninguém lhe daria a mínima, como se você fosse invisível. Tenho certeza de que, depois de algumas horas (ou seriam minutos?), o leitor se sentiria o último dos seres humanos. E faria desesperadamente de tudo para descobrir o que estaria acontecendo.
Pois é, acontece que essa necessidade de que os outros nos aceitem, se por um lado é natural ao nosso ser, quando exagerada é causa de muito sofrimento. E em tempos de redes sociais esse imperativo tão humano foi às nuvens. Já parou para pensar o que tanto nos fascina nas redes? Não seria – prezado leitor e cara leitora – esse louco afã de não sermos anônimos, de sentirmos que nossas “façanhas” diárias são dignas de muitos “likes”? Que somos estupenda e inequivocamente felizes?
Há sempre um desejo de aprovação alheia na maior parte das coisas que fazemos, por certo, e isso é perfeitamente normal. Se troco de carro ou de casa, isso me faz feliz por ser uma conquista pessoal. Mas também, sejamos sinceros, ficamos satisfeitos com o olhar de admiração (e por que não dizer, de inveja) dos queridos vizinhos. No “Animal Planet” do homo sapiens, somos todos pavões a ostentar a plumagem.
O problema, contudo, começa a ficar grave quando pautamos nossa vida unicamente pelo olhar do outro. E sem notar passamos a guiar nossas ações e decisões tendo em vista o quanto isso irá impressionar as pessoas em nossa volta. Quando isso acontece, deixamos de ser os verdadeiros timoneiros de nossa existência. Deixamos que os outros (aqui incluso o mercado e seu astuto marketing, que tudo quer nos vender) guiem nossos desejos. E passamos a acreditar que, sim, só seremos admirados ao volante de tal marca de carro, se comprarmos o último tipo de smartphone ou vestirmos a roupa “da hora”.
Como acontece sempre com essas questões, o que nos salva aqui é nossa própria honestidade. Nos olharmos no espelho e enxergar alguém que realmente persegue seus próprios sonhos. Seus próprios objetivos. Uma pessoa que respeita seus próprios valores, não colocando a aprovação dos outros acima de suas próprias convicções. Quanto mais agimos dessa forma, mais livres nos tornamos. Mais cientes de quem somos. E do que realmente precisamos. Seremos, ao final, mais felizes. Porque respeitar quem somos, me parece claro, é um bloco básico na construção da felicidade.
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