Valores, empreendedorismo e cenários econômicos. A tríade de assuntos que marcou o início dos eventos no Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) – e o primeiro da gestão do presidente Carlos Lazzari – trouxe um pouco da receita que move os negócios da cidade e os impulsiona para o progresso. A programação reuniu o prefeito de Diogo Siqueira, o empresário Neco Argenta e o economista Rodolfo Margato em encontro que ocorreu na noite de 19 de março.
A primeira parte da reunião-jantar foi dedicada à tradicional explanação do prefeito, que abre a agenda de palestras anuais do CIC-BG. Siqueira abordou os “Valores que nos Movem”, destacando os princípios que regem a administração em pautas como educação, saúde, infraestrutura e segurança. “A gente se orgulha de Bento Gonçalves por causa dos valores que a gente tem”, sintetizou, logo no início de sua fala, destacando o espírito voluntáiro da sociedade em ajudar as vítimas das enchentes.
O prefeito destacou diversas ações que estão sendo feitas para a população residente e para as cerca de 1,5 mil pessoas que chegam todos os anos à cidade para morar. Salientou as parcerias com a UCS e com o Cenecista, a fim de utilizar os espaços para a educação básica, que juntos recebem cerca de 900 alunos. Ao abordar a saúde, disse que o município tem conseguido evitar internações no Hospital Tacchini ou enviar pacientes a Caxias do Sul porque aumentou o suporte da saúde do município. “Entregamos farmácia e o Laboratório de Patologia, agora vem mais uma etapa da reforma do Galassi”, anunciou.
Ele falou, ainda, sobre obras de infraestrutura, como a do Complexo Viário da Zona Sul. “Será uma obra que vai desafogar todo o trânsito da região”, garantiu. Citou também a despoluição do Lago Fasolo, que deverá se transformar numa área de lazer, e o asfaltamento entre o Vale dos Vinhedos e Faria Lemos, no Vale Aurora. “Será uma grande ferramenta turística também”, projetou.
O prefeito também abordou a saúde financeira e a questão do funcionalismo público do município. “Nós gastamos menos do que arrecadamos. Esse equilíbrio é fundamental para que a gente tenha estabilidade a longo prazo. Hoje, temos cerca de 3 mil funcionários concursados ou em processo de efetivação. Não vamos ampliar esse número significativamente”, disse. Uma das tônicas foi o trabalho conjunto da administração. “Estamos com as entidades, com a população. A prefeitura está ao lado de todos, atuando com planejamento e transparência. Quis fazer um breve relato das posturas que a gente tem, mas principalmente dos valores que unem a todos nós”, destacou.
“O Brasil já deu certo”, diz Neco Argenta
Na quarta edição do painel ‘Cases Inspiradores’, o empresário Neco Argenta, presidentes das Empresas SIM, conglomerado de Flores da Cunha que faturou R$ 16 bilhões no ano passado, deu um relato otimista sobre o ofício de empreender no Brasil. “O Brasil não é um país que vai dar certo. O Brasil é um país que já deu certo”, destacou. Para ele, é importante não esperar pelas decisões de Brasília. “Sempre que isso acontece, nós perdemos tempo. Dizer que o governo que define a nossa vida é mentira. Toda mudança cria oportunidades, e o Brasil é um país de oportunidades. É preciso vontade de trabalhar, discernimento e estratégia que as coisas acontecem”, receitou.
Argenta começou a trabalhar aos 11 anos fazendo caixinhas de madeira para o transporte de uva. Com 12, foi auxiliar de entregas da Lojas Colombo, e aos 18, chegou na Móveis Florense como office boy até se tornar gestor de vendas. Aos 21, após a morte do pai, Luiz, firmou sociedade com o irmão, Deunir, e fundou a Di Trento, hoje Empresas SIM. A partir de 1992, a empresa começou a investir em postos de gasolina, mas foi em 1999 que veio a decisão de focar exclusivamente nesse negócio. “O que tínhamos de mais rentável eram os 27 postos e decidimos nos tronar especialistas nisso”, disse. “Se tivesse que aconselhar um jovem, diria a ele para se tornar especialista em alguma coisa”.
Hoje, as Empresas SIM são formadas pelas marcas SIM Rede de Postos, SIM Distribuidora de Combustíveis, SIM Lubrificantes, Charrua, Querodiesel, A27 Bank, SIM Digital, IPS e SIM Aviação. Hoje, o grupo com mais de 5,6 mil funcionários possui mais de 180 postos SIM no varejo e duas distribuidoras, a SIM Distribuidora de Combustíveis, com 16 bases, e a Charrua, com mais de 340 postos embandeirados. “Somos a quarta maior distribuidora do Brasil, e isso é um orgulho para nós”, contou. Entre as expressivas marcas conquistadas pelo grupo também está o licenciamento para distribuição dos produtos da Petronas, uma das três maiores companhias de petróleo do mundo. “O Brasil é o primeiro país fora de Malásia a ter postos da Petronas, uma conquista nossa”, disse.
PIB do Brasil deve crescer 2%
Vice-presidente de Pesquisa Econômica da XP Investimentos, o economista Rodolfo Margato disse que o Brasil deve fechar 2024 com um crescimento de PIB na ordem de 2%. Essa não foi a única boa projeção apontada por ele. Segundo Margato, o país também deve continuar a cortar a taxa de juros Selic e atingir patamares de 9% em setembro. “É acima dos 6,5% da pré-pandemia, mas bem abaixo dos 14% que estava”, disse, projetando uma inflação na casa de 3,5%. “A economia tem um sopro de recuperação”, continuou.
O corte de juros também deve acontecer em outras partes do mundo. Com a pandemia, os bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e da Inglaterra aumentaram as taxas de juros para conter a inflação. Agora, com os cenários retornando a uma normalidade, o movimento deve ser inverso. “O mundo não se livrou da pressão inflacionária. Acho que o grande tópico, ainda hoje, do plano de fundo macro global, é o corte ou não de juros nos Estados Unidos, na Europa, porque isso pode impulsionar mais rapidamente os ativos financeiros no Brasil, os investimentos e assim por diante”, disse.
Margato, entretanto, demonstra preocupação com a atual política fiscal. Para ele, o governo peca no déficit primário, com as despesas maiores do que as receitas, ao mesmo tempo que a dívida pública continua aumentando. “Projetamos um déficit de 0,6% do PIB neste ano. Acreditamos que o governo precise revisar a meta fiscal na virada de semestre”, observou. “Não deve trazer um efeito para 2024, mas uma preocupação para os próximos anos do ponto de vista macroeconômico com as contas públicas”, observou o economista.
Mediador do painel, o presidente da entidade, Carlos Lazzari, destacou o papel do CIC-BG como parceiro de iniciativas que contribuem para o desenvolvimento da cidade. “Nossos convidados abrilhantam essa casa na abertura das atividades empresariais na nossa gestão”, disse.
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