Há mais de 15 dias, a população gaúcha vem sofrendo com as fortes chuvas. Cerca de 90% da população foi afetada de alguma forma pelas inundações. O sentimento de impotência, o trauma pela perda de familiares ou amigos e o fato de muitos terem que sair de casa, sem uma perspectiva de volta à normalidade, podem desencadear a ansiedade climática, também chamada de ecoansiedade.
Os sintomas costumam se manifestar por meio da preocupação constante com o meio ambiente e afetam a segurança, a estabilidade emocional e o senso de pertencimento. Sinais de desesperança, pensamentos obsessivos sobre o tema ou adversos ao assunto, além de reações físicas, como doenças de pele e dores de cabeça, podem ser desencadeados na população afetada direta ou indiretamente pelas enchentes.
A psicóloga da Unimed Nordeste-RS, Eduane Pizarro Ribeiro, diz que para ajudar na redução do estresse e na promoção do bem-estar emocional é importante o autocuidado, como limitar a exposição às notícias de forma equilibrada. Além disso, é indicado se envolver em ações que auxiliem na melhora dos impactos ambientais, reconectar-se com a natureza, realizar caminhadas ou simplesmente passear em áreas naturais.
No entanto, a profissional atenta que, no caso dos sintomas persistirem, é fundamental buscar ajuda profissional para o enfrentamento do trauma e a recuperação emocional.
“Se as angústias persistirem ou se tornarem avassaladoras, é importante buscar ajuda profissional. Terapeutas, conselheiros e outros profissionais de saúde mental podem oferecer suporte especializado e estratégias de enfrentamento para lidar com o trauma e promover a recuperação emocional”, alerta a psicóloga.
Outros problemas de saúde mental
O levantamento mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o Brasil como o país com o maior índice de ansiosos do mundo, representando 9,3% da população ou 18 milhões de pessoas. O estudo de 2017 ainda identificou a nação como a terceira maior em número de depressivos, com 5,8% da população ou 11 milhões. Quando o foco são os estados, dados do IBGE (2015) identificaram o Rio Grande do Sul como o mais depressivo, totalizando 13,2% das pessoas adultas.
Os dados ligam um alerta e revelam que as inundações podem despertar ou mesmo agravar uma série de outros transtornos relacionados à saúde mental. De acordo com a psicóloga da Unimed Nordeste-RS, eles podem se manifestar de formas variadas, como choque e trauma inicial, estresse e ansiedade, luto e tristeza, estresse pós-traumático e a própria depressão.
E os sintomas não se limitam aos impactados diretos. É preciso também ter atenção com aqueles que não foram atingidos, mas sofrem pela dor do outro. A empatia, o sentimento de impotência, a solidariedade e o desejo de ajudar, a preocupação com a segurança e a exposição repetida a imagens e relatos de tragédias podem desencadear reações comportamentais e emocionais.
Eduane ressalta, ainda, que os comportamentos psicológicos a desastres naturais podem variar significativamente de acordo com a idade. Os sintomas e o impacto podem diferir de acordo com o estágio de desenvolvimento e as experiências de vida de cada grupo etário.
Enquanto as crianças, por terem dificuldade de expressar sentimentos verbalmente, podem manifestar estresse por meio de sintomas físicos, comportamentos regressivos ou pesadelos, os adolescentes têm potencial de reagir com uma gama de emoções, incluindo medo, tristeza, raiva e culpa.
“É comum proteger as crianças de notícias ruins, mas conversar sobre o que está acontecendo pode ajudá-las a se sentirem mais preparadas e seguras em situações de emergência. É importante explicar a respeito dos desastres climáticos de uma maneira adequada à idade delas, utilizando palavras simples e evitando detalhes excessivamente assustadores ou complicados. Esteja preparado para responder às perguntas da criança de maneira honesta e tranquilizadora”, atenta a psicóloga.
No caso dos adultos, apesar de terem maior capacidade de lidar com o estresse, podem apresentar sintomas de estresse, ansiedade, depressão e insônia, especialmente se estiverem lidando com a perda de propriedades, empregos ou entes queridos. Os idosos podem sentir medo, confusão e desorientação, especialmente se forem evacuados de suas casas ou separados de suas redes de suporte.
Como ajudar no apoio emocional
O apoio emocional, como o simples ato de ouvir, a conexão social por meio da solidariedade e o apoio mútuo, assim como técnicas de relaxamento, de autocuidado, priorizando o sono adequado, alimentação saudável, hidratação e a adoção de uma mentalidade positiva são atitudes que contribuem para o caminho do bem-estar.
“É necessário limitar a exposição às notícias, ou seja, embora seja importante estar informado sobre questões ambientais, o consumo excessivo de notícias negativas pode aumentar a ansiedade. Defina limites para a quantidade de tempo que você passa acompanhando as notícias e verifique fontes confiáveis e equilibradas”, finaliza a psicóloga da Unimed Nordeste-RS.
Foto: Divulgação Unimed Nordeste-RS
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