A comunidade de Caravaggio, em Farroupilha, está em festa. Mas seria mais correto afirmar que tantas outras praças católicas, espalhadas por São Marcos, Flores da Cunha, Carlos Barbosa, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Porto Alegre e até em Londrina, no Paraná, também estão.
Em cada um desses lugares, o padre Ricardo Fontana, reitor do Santuário de Caravaggio, construiu sua caminhada de fé, que segue sendo pavimentada e chega, em dezembro, aos 25 anos de trajetória. Para comemorar esse um quarto de século de sacerdócio, o religioso celebra missa festiva no emblemático templo religioso que coordena, no dia 9 de dezembro, às 10h30min. “Esse vai ser o segundo dia mais feliz da minha vida”, antecipa Fontana. O primeiro foi o dia de sua ordenação, em 20 de dezembro de 1998, na cidade de Flores da Cunha, pelo então bispo Dom Paulo Moretto. “Foi um dia de muita emoção, porque foi tudo aquilo que eu tinha sonhado desde a infância”.
Essa é uma sentença que está longe de ser dita com a força da expressão. “Mesmo sem saber, a minha vocação nasceu na pia batismal”, conta. Com cinco anos, uma de suas brincadeiras favoritas era reproduzir as falas escutadas nas missas como se já fosse padre. “Eu reunia a criançada e celebrava a missa, reunia todas as famílias e o mesmo sermão que o padre fazia, eu reproduzia. Na pré-adolescência, celebrava a missa para os filhos dos meus primos”.
Mais ou menos nessa época, um ex-seminarista foi trabalhar ao lado da casa onde morava o então garoto Ricardo. Foi o início da aproximação com a vida religiosa, um sonho acalentado desde criança, e não só por ele. O futuro eclesiástico teve como padrinhos de batismo seus avós maternos, Alberto e Otília Baldissera. Ela tinha o sonho de que seus dois filhos se tornassem padres, mas embora tenham chegado a frequentar o seminário, nenhum deles acabou se tornando religioso. E, no dia do batismo do seu também neto, dona Otília o consagrou: “quem sabe esse menino será padre”. Padre Ricardo só ficou sabendo dessa história muitos anos depois, e nem sua mãe havia contado o acontecido para não influenciar em sua vocação.
Com todas as informações levantadas com o novo vizinho sobre o funcionamento do seminário, o garoto comunicou aos pais sobre sua vontade. Autorizado, fez uma espécie de curso no final de dezembro de 1983 e, no dia em que completou 13 anos, em 2 de março de 1984, dava início ao período como seminarista no Seminário Josefino Instituto Leonardo Murialdo, no distrito caxiense de Fazenda Souza.
Nascido em São Marcos e criado em Flores da Cunha, caçula dos seis filhos de Nilto Fontana e de Maria Baldissera Fontana, permaneceu no seminário por 15 anos. Concomitante ao ensino médio no Colégio Murialdo, estudou o curso Técnico Agropecuário no Colégio Agrícola Murialdo, em Ana Rech. Seguiu a formação com estudos de Filosofia em Porto Alegre e de Teologia em Londrina. A rigidez nos estudos é uma lembrança tão forte quanto à qualidade dos professores. “Nós praticamente saímos da 8ª série preparados para o vestibular. Todas atividades eram voltadas para formação mesmo. Isso nos deu bases sólidas”, elogia.
Os estudos continuaram a fazer parte da vida do padre. Depois de ordenado, atuou como professor, tanto na formação de seminaristas de ensino médio, em Ana Rech, como na de alunos do Colégio Murialdo. Aproveitou, ao ser chamado para acompanhar os estudantes de Filosofia do Seminário Maior de Viamão para fazer Mestrado em Teologia Sistemática, na área da eclesiologia (Estudo sobre a Igreja), realizado na PUCRS, em Porto Alegre.
Atuação regional
Bacharel em Teologia, com licenciatura plena em Filosofia e também pós-graduado em Formação de Educadores, Fontana tem no currículo experiência como padre diocesano, em Caxias do Sul, atuando por cinco anos como Vigário Paroquial da Catedral Santa Teresa, e Pároco pela primeira vez em Carlos Barbosa por três anos. Acumula, ainda, passagem pela Paróquia Santo Antônio de Bento Gonçalves, a partir de 2015, onde ajudou a criar a Casa Pão dos Pobres atendendo a imigrantes haitianos, venezuelanos, senegaleses, além de arrecadar alimentos e fabricar fraldas geriátricas. Na cidade, também atuou na reforma da casa paroquial, na finalização dos restauros da Igreja de Santo Antônio e na criação do Recanto de Santo Antônio, um jardim para acolher fiéis. Outro legado na cidade foi a construção de cinco igrejas no período de sete anos, além da reforma de 18 capelas, uma ação que também ocorreu em Carlos Barbosa com a reforma de diversos ambientes de fins religiosos.
Em Caravaggio, onde está atualmente, Fontana quer seguir no acolhimento de peregrinos e fiéis e também das caravanas de religiosos que buscam conforto e renovação em Nossa Senhora. “Enquanto Deus me der saúde, quero continuar nesse trabalho, pois acredito que cheguei até aqui não por meus méritos, nem por minhas capacidades, mas por pura graça de Deus, onde Ele foi me acompanhando, me capacitando e me dando forças para esse trabalho”, comenta.
A avó de Fontana não pôde ver o neto ordenado e nem seu trabalho religioso, ecumênico e diocesano. Faleceu antes. Mas um objeto encontrado nos livros de oração dela, quando o avô morreu, um santinho italiano carcomido de São Leonardo Murialdo, fundador da congregação em que estudou, mostra como estavam conectados. “Por isso que eu considero que a minha vocação nasceu no batismo, no dia do meu batismo, que é o que a teologia do batismo traz, só que a gente não tem consciência. Quando você recebe a unção do Espírito, aí você recebe a vocação, os dons para a tua vida. E aí cabe a cada um descobrir o que Deus preparou”, diz.
Foto: Leandro Ávila
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