Por Rogério Gava
Um saudoso professor dos tempos de segundo grau (eu sei, hoje é ensino médio, mas sou jurássico incorrigível) dizia: “o destino é dos trouxas!”. Queria ele ensinar que a vida é o que cada um, ao final, faz dela, e que culpar as circunstâncias é o eterno argumento dos fracos de vontade. Hoje, compreendo que ele tinha razão. Viver é construir a própria rota, sem mapa ou bússola, chamando para nós a responsabilidade pelas consequências de nossos atos e decisões.
Passamos a existência fazendo escolhas. Do berço ao túmulo. Umas maiores e outras menores, mas, com certeza, todas importantes. No campo pessoal e profissional. E a gravidade de nossas opções reside também no seguinte fato: elas podem realinhar nossa trajetória a partir de nossa origem. Ou nos jogar em um eterno e condescendente “a vida fez assim”.
Se somos determinados pelo nosso nascimento, pelo contexto em que aparecemos no mundo (família, posição social, nacionalidade, gênero, dinheiro no bolso – ou não – e tudo o mais), esse ponto de partida não é uma determinação. Se há sempre uma posição na largada, da qual ninguém escapa, é verdade também que podemos escolher a partir do que nos é dado. Mora aí, em meu ver, a essência da liberdade humana: construir a própria história a partir do bom e do ruim que nos foi legado.
Claro, fazer escolhas não é nada fácil, mas quem disse que viver é simples? Ao mesmo tempo (e aí eu concordo com os livros de autoajuda), nossa vida depende, em grande parte, somente de nós. Somos os únicos timoneiros de nossas alegrias e sofrimentos. As decisões que tomamos são sempre um “sim” para algo e outros tantos “nãos” para outros. Querer fugir disso é autoengano.
E, se escolher não é trivial, penso que algo nos ajuda nessa empreitada. Em frente às escolhas, devemos ter em mente o principal: nossa essência, nossos valores, tudo aquilo que representa o que de mais sagrado temos na vida. Quando somos fiéis ao nosso íntimo, ensinou Shakespeare, jamais seremos falsos a ninguém. Muito menos a nós mesmos. E aí, a probabilidade de acertarmos aumenta.
A verdade então é que haverá sempre abertura para escolher. Viemos ao mundo com um naipe de cartas à mão. Alguns piores, outros melhores, é fato. Mas como iremos jogar depende de cada um de nós. Viver é dominar a fina arte desse jogo. Uma competência essencial para a nossa própria felicidade. A filosofia e a religião têm um nome para essa faculdade: ela se chama “livre-arbítrio”. Não somos marionetes atados a um destino legado pelos deuses. Temos o inalienável poder de decidir.
Termino com Montaigne, esse mestre gigantesco, que disse tudo a esse respeito: “pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é que cabe determinar a qualidade de seus efeitos”. Eu acrescentaria, de bom grado, que o destino não existe; ele é, como dizia o velho professor, pura ilusão a ludibriar os néscios. E que cada um de nós, todos os dias, é quem constrói e dá sentido à própria caminhada.
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