Montante devido ao comércio local retrocedeu cerca de R$ 2,5 mi, segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BG)
A atipicidade de 2020 trouxe reflexos em diversos aspectos da economia. No caso do índice da inadimplência em Bento Gonçalves, o cenário do ano passado resultou em redução. O acumulado dos últimos 12 meses registrou recuo recorde: 18,1%, em relação a 2019. Isso significa cerca de R$ 2,5 mi a menos em dívidas no comércio local – já que o atual montante de R$ 11.569.822,97 faz frente aos R$ 14.134.992,22 registrados no ano anterior. Os dados são da Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves e foram divulgados na manhã de 03 de fevereiro.
O relatório traz outros números que seguem essa curva descendente. A quantidade de devedores diminuiu 12,8% no período – e é a menor dos últimos quatro anos. O levantamento leva em conta contribuintes em débito também com a prefeitura.
A significativa diminuição na inadimplência está diretamente condicionada às restrições impostas pela pandemia. “As pessoas compraram menos em 2020. O comércio, aquele com pontos de venda físicos, foi um dos mais prejudicados pelo regramento dos modelos de distanciamento impostos pelo Governo do Estado – por muito tempo as lojas ficaram de portas fechadas e, depois, tiveram seu funcionamento reduzido, em horas e em número de atendentes disponíveis. Isso significa menos vendas e ajuda a explicar o decréscimo na inadimplência”, argumenta o presidente da CDL-BG, Marcos Carbone.
Somado a esse motivo aparecem outras duas alterações no comportamento do consumidor. A primeira é que uma parcela significativa de pessoas reduziu ou alterou seus hábitos de compra em função da perda/diminuição de receita. São indivíduos que tiveram mudanças na renda familiar ou, desencorajados pela instabilidade econômica, passaram a consumir menos. “Outra situação é que quem continuou comprando, passou a usar muito mais o cartão de crédito, aproveitando as possibilidades de parcelamento e, também, o fato de ser essa uma das modalidades mais frequentes nas transações online, que cresceram muito em 2020 em função da pandemia. Pode ser que logo mais identifiquemos um aumento expressivo de inadimplência junto às operadoras de crédito”, aponta Carbone.
Perfil dos devedores
Os dados coletados pela CDL-BG revelam que a maioria dos inadimplentes deve de R$ 100 a R$ 250, representando 27,3% do total – índice menor do que em 2019, quando 31,4% deviam esse ticket médio. O número de quem devia entre R$ 250 e R$ 500 também recuou mais de 13%. O mesmo fenômeno foi registrado na quantidade dos devedores acima desse valor, com recuo de 1%.
Por outro lado, um aumento expressivo foi identificado no percentual de indivíduos que estão com dívidas de até R$ 50: de 10,8% em 2019 para 24,3% no ano passado. Outro crescimento registrado foi o percentual de pessoas jurídicas nesta lista – pouco menos de 1%.
O relatório também mostra que as mulheres continuam no topo da lista, porém com uma significativa aproximação do percentual masculino: enquanto em 2019 elas somavam 68,5% na quantidade de registros, em 2020 esse número diminuiu para 55,7%. Os homens saltaram de 31,4% para 44,2%.
Em ambos os anos, pessoas de 30 a 39 anos foram as que mais se endividaram, representando 31,8% do montante em 2020 – seguido por quem tem entre 40 e 49 anos, com 21,1% do total. Essa diferença – que foi de praticamente 10% – aumentou de forma expressiva em relação à 2019.
Sobre o tempo de registro, a maior parte dos inadimplentes – 79,6% em 2020 – está cadastrada no SPC entre nove meses e quatro anos. Em 2019, o período de nove a doze meses foi o que registrou a maior parcela de cadastrados no serviço – 21,34%. Já em 2020, a maior parcela – 22,04% – coube à faixa de tempo compreendida entre 1 e 2 anos.
Cenário nacional ainda é incerto
A inadimplência em âmbito nacional vem apresentando uma queda mais tímida do que aquela verificada em Bento Gonçalves. Segundo o levantamento mais recente divulgado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil, referente ao mês de agosto, o número de pessoas com contas em atraso teve queda de 1,5%.
Outro indicativo que pode ajudar a entender o cenário é o levantamento realizado pela CNDL em parceria com a Offer Wise Pesquisas, divulgado em janeiro. Nele, 62% dos entrevistados entendem que a situação econômica do país foi pior em 2020 do que em 2019 e 46% temem não serem capazes de pagar suas contas em 2021. Porém, 81% fizeram cortes no orçamento principalmente para redirecionar o valor ao pagamento de contas básicas do dia a dia (53%), para conseguir guardar dinheiro (37%) e para o pagamento de contas em atraso (30%) – sinalizando um possível motivo para justificar a queda nas dívidas.
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