Os índios receberam esse nome, pois os primeiros descobridores das novas terras, quando aqui chegaram, pensavam ter chegado às Índias. Os primeiros europeus que chegaram ao Rio Grande do Sul encontraram aqui cerca de 150 mil habitantes indígenas, distribuídos pelo litoral e pelo interior. Possuíam características diferentes, conforme a região que ocupavam.
O livro “A História da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas”, de autoria da Mestra em Educação e Doutora em Informática na Educação, Ana Cecília Togni e do advogado Gino Ferri (in memoriam), relata, em mais de 300 páginas, entre outras informações, a existência de três tribos indígenas habitando o Rio Grande do Sul, antes da chegada dos imigrantes europeus. Na obra, impressa em 2012 pela Editora Univates, há inúmeras informações interessantes como resgate histórico, entre elas a da instalação, em 1632, da redução jesuíta Santa Tereza, na região de Passo Fundo.
Para reportar mais informações sobre o livro e a ocupação indígena na região, o Integração entrevistou a autora Ana Cecília Togni. Confira a seguir.
O que motivou você e o Gino a escrever esse livro?
Ana Cecília – O motivo maior foi o resgate da história dos 120 municípios que compõem a Bacia Hidrográfica Taquari-Antas.
Quanto tempo de pesquisa a obra demandou?
Ana Cecília – Entre o início da pesquisa e o lançamento do livro foram 15 meses.
Quais foram as principais constatações decorrentes dessa pesquisa?
Ana Cecília – Pode-se salientar a origem e a história de cada município, a formação geológica dos vales do Rio das Antas e do Rio Taquari. Mas, sem dúvida, a principal foi a importância do uso da água desses rios pela comunidade dos vales.
Há acervo de literaturas a respeito da ocupação indígena nos municípios da região Nordeste do Estado?
Ana Cecília – Sim. Existem várias pesquisas e livros falando sobre isso, talvez não haja tanta divulgação dessas obras e pesquisas.
Segundo o livro, relatos de jesuítas, paulistas e portugueses, feitos ao longo dos anos 1500 e 1600, se referem a existência de três grandes províncias indígenas ocupando o território rio-grandense. A região montanhosa da bacia Taquari-Antas, em meados do século XIX, era ocupada pela província Ibia, dos índios Coroados. Em que locais de Bento Gonçalves e do entorno eles residiam?
Ana Cecília – Não há dados concretos de locais em Bento Gonçalves onde esses índios possam ter vivido. No entanto, ocupavam boa parte da área de abrangência da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, na época denominada por eles Província de Ibiá.
Ibiá, para eles, significava “a terra erguida”, barranco, ladeira, terra a pique e Ibiá-ça significa amarrado, ligado. São terras montanhosas, altas e características da região, onde depois surgiram os municípios de Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Vacaria, entre outros.
Por que eram chamados Coroados?
Ana Cecília – O termo “coroados” é a denominação atribuída no passado pelos portugueses aos indígenas de grupos de filiações linguísticas e regiões geográficas diversas, por usarem o que se entendia como sendo coroas de plumas na cabeça.
Eles eram antropófagos?
Ana Cecília – Algumas tribos eram antropófagas no sentido ritual, comendo prisioneiros de guerra por ato de vingança.
Os Bandeirantes perseguiam índios desde qual período? Eles atuavam a mando de quem e por que, contra os indígenas?
Ana Cecília – Muitas foram as expedições. Oficialmente, em 1531, uma expedição comandada por Martin Afonso de Souza tinha entre suas ordens iniciar a colonização e dominar o gentio nativo. Estavam sob ordens do rei de Portugal, mas havia também espanhóis ocupando o território gaúcho, o que gerava disputas. Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri e o então território de São Pedro do Rio Grande passou de direito a pertencer a Portugal.
Como eles se protegiam do frio?
Ana Cecília – Nossos índios são comumente representados por não usarem roupas, mas quando fazia frio, usavam casacos feitos de peles, palha ou algodão, o mesmo material com que fazem redes. Eles também ficavam ao redor da fogueira, bebendo juntos algo quente.
Quando chegaram os imigrantes italianos na Serra Gaúcha, ainda havia indígenas residindo na região? Em caso positivo, houveram confrontos?
Ana Cecília – Os imigrantes italianos chegaram oficialmente em 1875, embora alguns já houvessem vindo anteriormente. Como esses já vieram com o intuito de colonizar o país, receberam seus lotes e foram criando seus núcleos. Não há registros de confrontos, embora, daquelas tribos iniciais, existiam e ainda existem descendentes, como os Kaingangs.
Existem legados da província absorvidos pela cultura regional?
Ana Cecília – Alguns dos costumes e produtos que utilizamos são legados dos indígenas. Foram os índios Guaranis que introduziram a horticultura no Rio Grande do Sul. Os Guaranis legaram o milho, o feijão, a mandioca, a abóbora, a pimenta, o algodão, a batata-doce, o amendoim, a moranga, o chimarrão e o fumo. Eles usavam arco e flechas, lança, tacape e machados de pedra polidos.
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