Em 2020, devido a pandemia do Coronavírus, começou a ocorrer a disseminação da educação remota nas escolas de ensino fundamental e médio das redes públicas municipais e estaduais do Brasil. No mesmo ano, as redes públicas reprovaram apenas alunos evadidos, que abandonaram os estudos. Em 2021, professores e alunos continuam em processo de adaptação, agora de forma mais próxima, através do ensino híbrido. Como reflexo, em 2021, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) recebeu apenas 3.109.762 inscrições, menor número desde 2005, ano em que as notas da prova ainda não eram utilizadas como forma de ingresso no ensino superior.
Evasão escolar
De acordo com o Conselheiro Tutelar de Bento Gonçalves, Leonides Lavinicki, no ano de 2019, as duas escolas de Ensino Médio que representam a rede estadual no município, com cerca de cinco mil alunos, enviaram ao Conselho 445 Fichas de Comunicação de Aluno Infrequente (Ficais), que remetem a uma evasão de quase 10%. No mesmo ano, das 63 escolas municipais de Ensino Fundamental, foram enviadas 520 Ficais, correspondendo a uma evasão de 26%.
Em 2020, ano do início da pandemia, o órgão recebeu, da rede pública, 66 Ficais do Ensino Médio e 93 do Fundamental. Neste ano, após a sanção do decreto estadual autorizando o ensino à distância, a Promotoria Regional de Educação da Região da Serra, representada pela promotora Simone Martini, baixou uma normativa abolindo o envio das Ficais aos Conselhos Tutelares, em função do ensino remoto. Desse modo, não existe uma estatística de evasão escolar em 2021.
Leonides Lavinicki
Dificuldades das escolas apresentadas em audiências públicas na Câmara
As dificuldades enfrentadas por escolas de Bento Gonçalves, das redes públicas de Ensino Fundamental e Médio, para a adaptação ao processo virtual, foram relatadas na Câmara de Vereadores, em audiências públicas promovidas pela Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento e Bem-Estar Social, no último mês de junho. As audiências foram coordenadas pelo professor Eduardo Pompermayer, vice-presidente da Comissão. A sessão ocorrida na noite de 1 de junho, foi marcada por prestação de contas feitas pela secretária municipal de Educação, Adriane Zorzi e pelo coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Alexandre Misturini. Também foi marcada por manifestações de professores, alunos e Vereadores. Tanto Adriana como Misturini ressaltaram que os corpos docentes e equipes de apoio das redes trabalharam em dobro para atender às novas demandas em letramento digital, distanciamento social e higienização, impostas pelo coronavírus. Acrescentaram que o atual momento nas escolas está sendo marcado por diagnósticos sobre a defasagem nos aprendizados e adaptações de currículos.
A Secretária apresentou várias ações feitas no período, entre elas a destinação, em kits, da merenda escolar para a casa dos alunos, a aquisição de computadores e a recente nomeação de um professor a mais, por escola, para reforçar o resgate da defasagem de alunos, em relação a aprendizados básicos.
“Em 2020, foi aberta uma lacuna gigante na educação. A maioria dos professores não estava preparada para a migração ao digital e ninguém explicava como fazer. Também houveram os desafios do letramento digital e da compra de equipamentos. Além disso, enfrentamos muita pressão de familiares de alunos exigindo, com falsos argumentos, a volta das aulas presenciais. A atual polarização política da sociedade brasileira, alimentada por fake news, reflete o descaso de muitos governantes com a educação pública de qualidade”, salientou o coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Alexandre Misturini. Acrescentou que, em 2021, alunos e professores estão aprendendo juntos sobre a utilização das novas ferramentas tecnológicas para a educação. Afirmou que o ensino remoto veio para ficar, em especial no contraturno. O que preocupa, segundo ele, é a adaptação pedagógica ao novo formato.
Adriane Zorzi
Alexandre Misturini
“Professores e escolas jamais serão substituídos”
O vereador Eduardo Pompermayer (Duda), proponente das audiências, há mais de oito anos atua no município como professor de História, nas redes pública e privada. Ao longo dos anos, no magistério, desenvolveu trabalhos voltados para o esporte, incentivando a participação de estudantes no cenário esportivo do município.
Em 2019, motivado por suas opiniões referentes às demandas do setor estudantil e as limitações da expansão do esporte, e também por pessoas próximas, filiou-se ao partido Democratas. Em 2020, através da participação em um programa de ajuda solidária para pessoas em zona de risco, Pompermayer confirmou sua vocação para entender e propor soluções às demandas do cidadão. Em 2020, aos 31 anos, foi eleito Vereador com 1.481 votos.
Após a audiência, o Vereador, a convite, visitou a redação do Integração da Serra para falar sobre o atual perfil do ensino público pós pandemia. “O desafio não é fácil, a própria ONU e UNICEF declararam uma crise na educação durante dois anos. A Constituição Brasileira estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. Esse direito agora pode estar sendo ainda mais ameaçado pelo processo de adaptação do ensino público brasileiro ao novo formato virtual, imposto pela pandemia”, ressaltou ele. Acentuou que o ensino híbrido dobrou o trabalho do professor e proporcionou ao aluno uma sensação de não-obrigatoriedade. Isso é preocupante, porque a educação tem que ser feita pensando no aluno”. Acrescentou que as novas tecnologias somam, mas professores e escolas jamais serão substituídos.
Duda Pompermayer
Novo Ensino Médio
Em relação a mudança de perfil do Ensino Médio, instituída pelo MEC, chamado de “Novo Ensino Médio”, Pompermayer salientou que até agora a maioria dos professores da rede pública está despreparada para essa grade curricular, prevista para estar totalmente implementada em 2023. “Temos mais esse desafio pela frente, que enfrentaremos com paciência e amor, porque conhecemos a missão e o valor da educação para a mudança estrutural necessária à sociedade brasileira”.
Acesso à internet gratuita para alunos e professores
No dia 11 de junho deste ano, o Governo Federal promulgou a lei 14.172/21, que garante acesso à internet gratuita para alunos e professores das escolas das redes públicas dos municípios, estados e do Distrito Federal. A lei prevê a oferta de 20 Gb mensais de franquia, tomando como referência o preço de R$ 0,62 por Gb a todos os professores do ensino fundamental e médio das redes estaduais e municipais; aos alunos da rede pública do ensino fundamental e médio regulares pertencentes a famílias vinculadas ao Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e aos matriculados nas escolas das comunidades indígenas e quilombolas.
Serão destinados R $3,5 bilhões para ações que promovam a conectividade. Entre as fontes de recursos, estão as dotações orçamentárias e o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O texto prevê repasses a estados e municípios, que vão aplicá-los conforme a demanda local. A transferência deverá ocorrer em parcela única.
Antes disso, o Congresso Nacional, no dia 1 de junho deste ano, derrubou o veto integral do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao projeto. O presidente disse que a proposta era um empecilho para o cumprimento da meta fiscal do governo. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, também era contrário à iniciativa. Ele defende como prioridade levar conectividade às escolas, em vez de distribuir gratuidade a alunos e professores. Em março, afirmou que ‘despejar dinheiro na conta não é política pública’.
Classe dominante x educação pública
Na história do Brasil, é visível a posição estratégica de muitos integrantes das classes dominantes, em manter os menos favorecidos na ignorância. A criação de cotas nas universidades federais para afrodescendentes, pardos e indígenas, oriundos de escolas das redes públicas, em 2012, gerou uma série de reações negativas, inclusive entre estudantes de universidades federais oriundos da classe média/alta, de cor branca, que não representam a maioria da população.
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