Rodolfo Margato e Leonardo Mendes palestraram com dados e análises
O Brasil, mesmo diante das desconfianças que pairam sobre a agenda fiscal do governo e de uma possível desaceleração da economia americana, deve chegar ao fim de 2023 registrando um crescimento de 1,4% do PIB. A projeção foi compartilhada pelo economista da XP Investimentos Rodolfo Margato na última segunda-feira, em palestra no Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG).
Parte desse resultado, ainda que abaixo do registrado em 2022, quando o país cravou crescimento de 2,9%, vem do potencial do agronegócio e de sua safra recorde. O setor deve crescer em torno de 8% e é um dos que ajudarão a atividade econômica doméstica, ao lado do setor extrativista mineral e de parte do segmento de serviços. “Ao contrário de outros países, não discutimos retração, por outro lado, há uma desaceleração de crescimento”, disse Margato, que palestrou ao lado do também economista Leonardo Mendes, sócio da JB3 Investimentos.
Se nos últimos dois anos o Brasil conseguiu obter superávit nas contas públicas, neste o país deve registrar déficit, com gastos que chegam na ordem de R$ 200 bilhões. “Isso estremeceu o mercado, é uma política fiscal mais expansionista e se não tiver compensação, significa mais inflação e, consequentemente, mais juros”, observou Margato.
Na avaliação do economista, a equipe econômica do governo procura medidas para compensar o aumento de gastos, como a retirada da subvenção do ICMS da base de cálculo e a tributação de apostas esportivas. “Parece um equilíbrio por mais gasto e uma busca por mais receitas. As despesas muito provavelmente vão acontecer, mas a arrecadação tem uma incerteza. Não vamos ter R$ 150 bi a mais como o governo vem dizendo, devemos ter entre R$ 70 e R$ 80 bi. Primeiro, porque algumas medias dependem de adesão de PFs e PJs e a subvenção do ICMS deve correr judicialmente”, analisou. “Com o arcabouço fiscal, foi diminuída a visão de que em quatro anos a dívida pública seria 100% do PIB. Mas é uma política fiscal mais expansionista”, prosseguiu.
Entre outras projeções estipulada por Margato, ele acredita que a partir do segundo semestre deve haver uma redução da taxa de Selic, hoje em 13,75%. Gradualmente, ela deve recuar, a partir de agosto ou setembro, e fechar em 12% no final deste ano e, possivelmente, em 10% em 2024. “Mas não vamos chegar nos patamares de antes de pandemia, com taxa de 6%, 7%”, projetou. Já a inflação deve finalizar 2023 em 5,5%
No cenário internacional, Margato crê em desaceleração na economia americana no segundo semestre. “Deve vir uma recessão moderada até o começo de 2024”. O Brasil, grande exportador de commodities, não deve sentir tanto esses efeitos. “A China está em retomada neste ano, e a demanda asiática é grande. A influência do mundo para o Brasil não está boa, mas também não está ruim. Por um lado, tem uma desaceleração global, por outro tem uma relativa sustentação através da China”, disse Margato.
Outro palestrante da noite, Leonardo Mendes disse que o mercado financeiro é um aliado da indústria. “Independentemente da situação econômica, a vantagem que nós, do mercado financeiro temos, é que podemos mudar a estratégia; se o juro está alto ou baixo, se a China favorece ou não, nós temos agilidade para proteger as carteiras”, comentou.
Legenda: Palestra trouxe dados para investidores no CIC-BG, na foto Rodolfo Margato
Crédito: Exata Comunicação, Silvestre Santos
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