Diretor executivo da Cooperativa Vinícola Garibaldi, Alexandre Angonezi
Há uma questão fundamental no cooperativismo para que ele possa ser compreendido como forma de negócio que detém cases extremamente bem-sucedidos ao redor do globo: as pessoas. São elas que movem, há mais de 170 anos, esse modelo. E são os indivíduos que continuarão fazendo o cooperativismo se expandir, pois são as pessoas o seu capital.
Em pleno século 21, o cooperativismo segue, além de ativo e atuante, uma ferramenta mais igualitária de crescimento econômico. O cooperativismo, cujo Dia Internacional é lembrado no primeiro sábado de julho, não é meramente uma associação de capital, mas sim de pessoas com um propósito em comum. Isso torna o sistema forte e voltado para o social, fazendo com que as pessoas, mobilizadas por esse propósito, engajem-se verdadeiramente na busca por resultados comuns. Assim, colaboram ativamente para construir uma sociedade mais harmônica.
A própria ONU cita o cooperativismo como sendo uma ferramenta de contribuições significativas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), já que possui aspectos ligados ao desenvolvimento sustentável desde sua essência e está baseado em valores e princípios éticos. São qualidades relevantes para os desafios deste século, quando se percebem os dualismos de nossas realidades. De um lado, a humanidade está evoluindo muito e crescendo em recursos tecnológicos que promovem mais qualidade de vida, longevidade e comodidades. Porém, na contramão dessa evolução, enfrentamos um grande dilema: a concentração de renda e o aumento da desigualdade. Neste sentido, o cooperativismo, a cooperação e a intercooperação têm apresentado um caminho alternativo, no qual as pessoas tornam-se participantes da geração de riqueza e prosperidade de forma mais justa e equilibrada.
Os preceitos do cooperativismo, no entanto, não são exclusivos dele. E nem devem ser. Precisam ser compartilhados para que mais organizações, não apenas econômicas, se beneficiem de seus ideais. Conceitos como a gestão democrática, transparência, equidade, formação das pessoas (educação) e o compromisso comunitário, os chamados princípios do cooperativismo, são plenamente aplicáveis a qualquer organização. O sentimento de pertencimentos à comunidade, acredito, é responsável por essa força. As pessoas percebem de maneira natural como podem ser mais fortes do que imaginam. São situações que se evidenciam em crises. Nesses tempos de pandemia, assim como em quaisquer outros tipos de adversidades, o cooperativismo sempre se revela uma base sólida para estar mais forte diante dos obstáculos.
Novamente, é o envolvimento das pessoas que cria esse lastro e torna os empreendimentos cooperativos mais resilientes. É uma história que se repete dentro do cooperativismo porque foi assim que ele nasceu e, portanto, está em sua gênese. Surgiu como um modelo de enfrentamento a momentos difíceis e, a partir disso, enxergou sua força e importância. Por meio de uma gestão democrática e constante adaptação dos processos internos, o cooperativismo é capaz de crescer e agregar desenvolvimento à economia.
No mundo, mais de 1,2 bilhão de pessoas estão associadas a cerca de 3 milhões de cooperativas. Aqui no Brasil, números de 2019 apontam para 15,5 milhões de cooperados em 5,3 mil cooperativas. Ainda estamos evoluindo no país, especialmente nos últimos anos. Mas ainda temos uma proporção pequena de pessoas envolvidas, cerca de 7% da população, contra os mais de 50% de alguns países europeus, como a Alemanha, por exemplo.
Entretanto, é a essência desse modelo que nos faz acreditar sempre, tendo o ser humano como elemento central dessa proposta. E é sua participação, de forma democrática e igualitária, buscando o bem comum, que faz do cooperativismo uma grande alternativa para as dificuldades que a humanidade enfrenta.
Foto: Daniela Radavelli
Deixe uma resposta
Quer deixar um comentário?Fique à vontade para isso!