A vida atual nos leva a focar no que é prático, nas necessidades do dia a dia, nas coisas, nas tarefas. Normalmente, não encontramos muito tempo e nem apelos para perceber o que é mais subjetivo, o que não está evidente, mas nas entrelinhas.
No entanto, o autoconhecimento, por exemplo, passa por atenção a estes aspectos tão importantes. Não somos apenas nossa imagem no espelho, nossa aparência, conforme nossas roupas e cabelos.
Quando lembramos de uma pessoa, além da aparência, também nos ocorre seu jeito de ser, seu humor, as coisas que sabe fazer bem, aquelas em que pode não se sair muito bem, sua índole, sua energia, a força de sua presença. São aspectos subjetivos e que nos identificam. Muitas vezes, a opinião que temos a nosso próprio respeito não é a mesma que os outros têm de nós, por várias razões. Bem, dificilmente todos vão pensar o mesmo a nosso respeito, mas é importante que tenhamos uma boa noção a respeito de nós mesmos e também de como somos vistos pelos outros, como parte do que é nossa identidade.
Qual a importância disso? Inicialmente, uma noção clara de identidade é muito adequada e sinal de saúde mental. A partir de nossa identidade vamos nos relacionar com o mundo, com as pessoas, buscar objetivos, trabalho, amizades, relacionamentos. Com clareza sobre nossas características, poderemos buscar melhorar algumas coisas e nos orgulharmos de muitas outras que nos caracterizam. Além disso, podemos compreender melhor os nossos sentimentos, dar nome adequado a eles, perceber as fontes de ansiedade e insegurança, explorar nossas capacidades pessoais para superar problemas.
Ao surgirem dificuldades a serem enfrentadas, saber muito sobre nós mesmos pode ser de grande ajuda. O que exatamente estamos sentindo? O que se passou e qual o motivo desse fato nos afetar tanto? Por qual motivo outros fatos não nos fazem sentir tão mal? Estas perguntas dizem muito a respeito do universo subjetivo, do que se passa em nosso mundo interior. O que se passou em nossas vidas que nos tornou mais vulneráveis e/ou mais fortes?
Percebe-se que existe uma noção no senso comum, de que as vivências anteriores e infantis interferem muito em nossa vida e muito da infância, do passado, precisa ser retomado para compreensão do que se passa hoje na vida de cada um, problemas, escolhas, percepções. Mas como fazer isto? Este é um caminho por onde profissionais da psicologia podem orientar.
Com todos os dramas vividos na Pandemia, em que nos sentimos fragilizados, ameaçados de fato e apavorados com os perigos, acho possível dizer que as pessoas têm entrado mais em contato com as dores emocionais, com a existência da psicologia, dos psicólogos (as), da psicoterapia, da atenção aos sentimentos, enfim, às questões afetivas como fatores de saúde ou adoecimento, de fato. Talvez um aspecto do qual possamos tirar proveito para nossas vidas. É possível buscar auxílio e encontrar apoio para superação das dificuldades de ordem afetiva e emocional.
No entanto, muitas vezes identifica-se um entendimento simplificado de que o tratamento consiste apenas em desabafo e em breves encontros de escuta profissional e alívio. Porém, duas ou três sessões ainda não constituem um tratamento, talvez nem mesmo tempo suficiente para uma avaliação. Mas se o desabafo, somente, já é fonte de tanto alívio, já dá forças para seguir, quanto mais um tratamento psicoterápico de fato.
É compreensível que as conversas com amigos ou outros profissionais de saúde ou terapias integrativas já nos façam sentir muito melhor, diante da necessidade de amparo que a atualidade demanda. Momentos de certa acolhida e alívio, sem contato maior com nosso mundo interno, mais profundo, que exige trabalho e dedicação para mudanças. Só o suficiente para seguir, parece já bastar.
Nota-se na atualidade que há especialmente, muita necessidade de acolhimento, de alguém com quem seja possível se sentir seguro, amparado e falar sobre o que é íntimo com sigilo e respeito (curiosamente, num mundo em que a distinção íntimo/público parece já não existir). Sabemos que muitas vezes, cuidar é escutar, ou escutar é cuidar. O escutar fala, carrega uma mensagem de acolhida e esperança. A escuta profissional na Psicoterapia é uma escuta qualificada, diferenciada e singular, um recurso valioso de interlocução, possibilitando tratamento, suporte e mudanças, de forma séria e respeitosa.
Temos a possibilidade de contar com este valioso recurso para cuidarmos de nossa saúde emocional, não precisamos abrir mão dele por desconhecimento. Por este motivo, este foi o tema desta coluna, lembrar que a psicoterapia pode contribuir com nossa saúde e autoconhecimento, por uma vida melhor.
Imagem: Reprodução
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