Dos 497 municípios gaúchos, 122 têm áreas cultivadas e estão em plena safra
Novas áreas cultivadas que entram em produção este ano e a ausência de perdas em razão de intempéries projetam uma safra da uva muito maior que a do ano passado. As previsões indicam um leve aumento, podendo ultrapassar as 800 mil toneladas somente no Rio Grande do Sul. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje o estado mantém 46.774 hectares destinados ao cultivo da uva. Em relação a qualidade, ainda é cedo para fazer uma avaliação geral. Entretanto, as uvas precoces, destinadas à elaboração de espumantes apresentaram excelente sanidade e equilíbrio entre acidez e açúcar, o que é ideal para a bebida.
As condições de estiagem, combinadas com grande amplitude térmica diária, de dias quentes e noites frias, ocorridas no final da primavera e início do verão, não anteciparam o ciclo e foram muito favoráveis para a quantidade e a qualidade enológica das uvas precoces. Entretanto, apesar de uma previsão de maior quantidade em relação à safra 2020, o prognóstico de maiores índices de chuvas pode restringir o potencial qualitativo de algumas cultivares intermediárias e tardias, o que exige maior atenção dos produtores.
Para o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta, ter uma grande safra e de qualidade é um alento para um setor que viu seus estoques praticamente desaparecerem diante do excelente de desempenho de vendas em 2020 em razão da pandemia. “As pessoas ficaram mais em casa, mudando hábitos de consumo. A alta do dólar também ajudou, fazendo com que o brasileiro degustasse e descobrisse o vinho brasileiro, aprovando a experiência, tanto pela qualidade, quanto pelo bom preço”, avalia. Argenta também destaca o problema da falta de garrafas que vem se agravando ano a ano. “Se já enfrentávamos este problema com uma safra menor, nosso grande desafio será resolver esta situação, uma vez que o consumo per capita subiu no ano passado”.
A safra gaúcha em números
Quando falamos de safra da uva, logo vem à mente cidades como Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Garibaldi, Farroupilha, Caxias do Sul. Mas, o mapa da vitivinicultura gaúcha é muito maior. Hoje, o Rio Grande do Sul tem 497 municípios. Destes, 122 vivem do cultivo da uva, entre outras culturas, conforme dados do Cadastro Vinícola do Estado do Rio Grande do Sul (SISDEVIN/DAS). Menos de um quinto deste grupo, ou seja, 22, produzem apenas variedades viníferas. Outras 34 cidades mesclam as áreas com uvas viníferas e americanas, e a grande maioria, 66 delas, se dedicam ao cultivo exclusivo das uvas americanas.
A aposta única nas viníferas está distribuída por diversas regiões em pequenas cidades, como André da Rocha, Bagé, Candiota, Canela, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaara, Itaqui, Lavras do Sul, Mariana Pimentel, Muitos Capões, Passo do Sobrado, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Piratini, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento, São Borja, São João do Polesine, São Sepé e Uruguaiana. Neste caso, a maior representatividade está em Santana do Livramento com 10% de toda produção de uvas viníferas do Estado, chegando a 6,9 mil toneladas no ano passado.
Considerando os municípios que cultivam viníferas e americanas, o maior produtor de uvas é Flores da Cunha com um total de 84 mil toneladas em 2020, seguido por Bento Gonçalves com 73 mil toneladas e Farroupilha com 50 mil toneladas. Entretanto, o maior produtor de uvas viníferas é Bento Gonçalves com 12 mil toneladas.
Das 735 mil toneladas de uvas colhidas em 2020 (IBGE) no Rio Grande do Sul, sendo 502 mil toneladas industrializadas, por cerca de 15 mil famílias, 86% são de variedades americanas. Das 34 castas cultivadas (21 tintas, 12 brancas e uma rosé), o grande destaque fica com as tintas Isabel e Bordô, amplamente usadas para a elaboração de suco de uva. Agora, quando falamos de viníferas, o cenário amplia para 78 variedades, sendo 38 tintas, 38 brancas e duas rosés. A maior produção é de Moscato Branco e Chardonnay, além das tintas Merlot e Cabernet Sauvignon. Castas como Garganega, Moscato Rosado e Itália (Pirovano 65) não ultrapassam mil quilos. Toda essa produção é processada por 614 vinícolas no Rio Grande do Sul, segundos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em todo o Brasil, são 831 vinícolas.
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