O que foi revelado durante a NRF, maior evento voltado ao varejo do mundo, chegou aos comerciantes de Bento Gonçalves na noite de terça-feira (27), no Bamboo Garden. Promovido pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BG), pelo Sindilojas Regional Bento e pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG), o encontro “Segredos da NRF 2024” trouxe o expert Fabiano Zortéa à cidade para apresentar um resumo das principais tendências apontadas pela feira realizada em Nova York em janeiro.
Coordenador estadual de Varejo do Sebrae-RS, Zortéa destacou que, entre necessidades de se dedicar mais à equipe, a fim de ela se sentir parte das estratégias da empresa, é preciso pensar no custo de não evoluir. “Se projetarmos quanto vai custar a gente ficar igual daqui a 10 anos, já começamos a dar alguns passos”, disse. “Então, olhando para o curso de não evoluir, vamos ter uma motivação maior. Se não tiver motivação, vai com disciplina, coloca na agenda o que precisa ser feito”.
Entre as cinco tendências trazidas pelo conferencista, uma delas diz respeito à ampliação da demanda híbrida. Conforme ele, consumidores “phygitais” – combina o físico e o digital – gastam de 15% a 30% mais do que quem só compra num canal de venda. “Nas lojas, é preciso menos prateleira com produto nas lojas e mais conexão emocional. Tenha um produto ou uma forma de atender que ninguém tem”, orientou.
Zortéa também reforçou que os ambientes físicos de venda seguirão firmes. “Não há nada no mundo que sustenta que a loja física vai perder força. Agora, tem muita gente que sustenta que precisamos fazer coisas diferentes nas lojas físicas”, disse. Nesse sentido, comentou que há lojas em quando o cliente visita a unidade é convidado a baixar o aplicativo da loja. “Isso porque eles sabem que a pessoa nem sempre estará disposta a ir à loja, e assim pode se conectar com o cliente em diferentes momentos de minha jornada de vida, já que ele acorda com demandas diferentes. Imaginar que a jornada dele pode ‘phygital’ é o melhor caminho para ter um negócio que vai poder servi-lo nas diferentes situações da vida dele”, disse.
Entre as tendências apresentadas por Zortéa esteve a inteligência artificial na experiência do cliente. De acordo com dados da NRF, 80% dos varejistas irão usar IA até 2026. “Eu vejo a IA como uma oportunidade de sermos melhor diante de nós mesmos. É aquele vendedor que vai ser ainda melhor vendedor”, disse. “Precisamos ter empatia com a tecnologia. Pode usar, por exemplo, para ganhar tempo, como utilizar o chatGPT para criar um convite, a fim de ganhar tempo para ser gasto em estratégia, mas coloca o seu toque humano para tocar mente e coração”, disse.
Outro tópico trazido da NRF foi a geração Z em foco. Essa turma nascida entre 1997 e 2010, que em 48% dos casos vive com os pais, busca fluidez no trabalho e se interessa antes por valores das marcas e depois por negócios. “Só nisso já há muito sobre comportamento do consumidor”, observou. Nos tempos atuais, há diversas gerações mantendo comportamentos similares, muito ocasionado pelo uso de smartphones, disseminado também pela geração que já passou dos 60 anos. Nesse mesmo cenário, há ainda a geração alpha (pós-2010), que mesmo sem poder de compra, impactam nas decisões de compra. “”Precisamos compreender mais sobre o meu nicho de público do que sobre cada geração”, comentou.
Zortéa ainda falou sobre duas tendências. Uma delas diz respeito à sustentabilidade, que encontra eco no resale e no preloved, ou seja, na revenda. “Isso é para redução de impacto ambiental e acesso à compra de itens que não teriam condições de comprar. A geração Z baseia, em 75% dos casos, sua compra pela pauta da sustentabilidade”, disse o palestrante, afirmando que 41% dos varejistas têm planos de investir em iniciativas de sustentabilidade.
Por fim, destacou a questão das lojas menores, mais eficientes e engajadas na comunidade. “Não é uma conversa de escala, necessariamente. A conexão afetiva que fala com mais margem, são conexões afetivas de marcas que resolvem problemas de grupos de pessoas. A gente vai ter que ser muito bom para um nicho menor. Mas muito eficiente a ponto de ter mais dinheiro sobretudo no final do mês. Essa é a lógica. Eu disse no início que não é fazendo do mesmo jeito, então, um dos principais jeitos é agregar novos serviços. Novos serviços agregados ao produto são o futuro do varejo que vai performar bem em atração de consumidores para a loja”, disse.
União de entidades fortalece o setor
Realizado pela primeira vez pelas três entidades, o encontro foi saudado pelo presidente da CDL-BG, Marcos Carbone. Para ele, o evento trouxe inovação tanto para o varejo quanto para as entidades. “Como a NRF fala muito em inovação, estamos inovando, e a união das três entidades torna o encontro cada vez mais representativo e uma referência para o setor”, destacou. O presidente do CIC-BG, Carlos Lazzari, também destacou o trabalho conjunto das organizações. “Estamos atuando juntos, ao lado da CDL e do Sindilojas. Esse encontro é um divisor de águas pelo trabalho em prol do varejo, trazendo conhecimento e inovação”, disse. O esforço conjunto das entidades também foi ressaltado pela presidente do Sindilojas, Gabriela Zanchet Jorge. “Mais uma vez fica comprovada a importância de trazer um pouco da NRF a Bento Gonçalves, um esforço que une entidades numa iniciativa para aproximar as principais soluções mundiais para os nossos lojistas”, considerou.
Foto: Tiago Garziera