A vida imita a arte ou a arte imita a vida? “O dia em que a terra parou…” Título e refrão de música, composta por Raul Seixas e Cláudio Roberto, em 1977, se tornou muito próxima da realidade neste ano, devido a pandemia do coronavírus (Covid-19), fazendo a vida imitar a arte. Um vírus, invisível a olho nu, acarretou pânico, isolamento, fechamento de fronteiras e desafiou a criatividade, tanto individual como coletiva. O panorama socioeconômico mundial se tornou ainda mais incerto. No Brasil não foi diferente. A solução foi a adaptação frente a um cenário caótico e de incertezas. O Integração da Serra entrevistou dirigentes de entidades representativas da economia de Bento Gonçalves, com o objetivo de reportar as dificuldades e conquistas de seus segmentos neste ano, perante as incertezas geradas pela pandemia.
Presidente do CIC-BG, Rogério Capoani
A pandemia do Coronavirus refletiu de que maneira na macroeconomia de Bento Goncalves?
Capoani: A pandemia afetou os negócios como um todo, mas como em qualquer crise sempre há setores que se sobressaem. Tivemos momentos muito preocupantes, especialmente entre os meses de março e junho, pelo efeito negativo ocasionado pelas restrições às atividades econômicas. No momento que conseguimos equilibrar as ações, mantendo comércio e indústria em funcionamento, houve uma rápida recuperação, até mesmo nos surpreendendo. Claro que a pandemia prejudicou alguns segmentos de modo mais intenso, como os setores de eventos, de turismo e de esporte, afetando demais os trabalhadores e os empreendedores que atuam neste ramo. Em nosso papel como entidade, tentamos intervir de todo o modo para que fossem retomadas, com todos os cuidados, as atividades nessas áreas, de maneira controlada, mas realmente foi muito complicado. Nossa constante reivindicação segue sendo para que todos os setores estejam funcionando com as devidas restrições e cuidados. Sempre defendemos que saúde e economia eram importantes e, colocando em prática os protocolos necessários, praticamente todos os setores, com mais ou menos restrição, poderiam funcionar. Enfim, foi um ano de muito aprendizado, de muito diálogo, de muita união e, com isso, conseguimos dar uma boa resposta à sociedade no combate à pandemia. Com o empenho de nossos empreendedores e das associações de classe, sempre articulado com o poder público, conseguimos, num ano pandêmico, recuperar muitas das vagas perdidas no pico do surto da Covid. Conforme os últimos números que temos sobre desempenho da economia, de outubro, superamos naquele mês o número total de empregos formais de todo 2019, embora o setor de serviços, principalmente, e o comércio tenham ficado com saldo negativo entre admitidos e desligados no acumulado entre janeiro e outubro.
Quais foram as estratégias adotadas pelo CIC-BG para driblar essas dificuldades?
Capoani: A principal foi o trabalho coletivo, juntando iniciativa privada, associações de classe, federações e poder público, em nível local, regional e estadual. Desde as primeiras notícias somamos força com a classe empresarial e a prefeitura, bem como com a comunidade, para primeiro oferecer mais suporte de atendimento aos casos de Covid na cidade. Fizemos uma campanha, a Unidos por Bento, e arrecadamos mais de R$ 760 mil para o enfrentamento da pandemia. Esses recursos financiaram a construção de 40 leitos na UPA, a aquisição de EPIs e testes e a distribuição de verba para o Comitê de Atenção ao Coronavírus e para o Hospital Tacchini. Também com esse dinheiro colocamos no ar a campanha Retorno Responsável, um esforço coletivo de 15 entidades para conscientizar não apenas trabalhadores como toda a comunidade, sobre a importância de seguir todos os protocolos sanitários. Atuamos fortemente nesta área porque acreditamos que a disseminação da informação correta é vital para vencermos o vírus. Estivemos atuando ao lado da prefeitura, da Amesne e da Assembleia Legislativa construindo alternativas para que conseguíssemos manter indústria, comércio e serviços operando. Fomo a fundo para entender o vírus. Colocamos à disposição a expertise de nossa vice para o Comércio, Marijane Paese, mestre em estatística, para estudar os números apresentados pelos órgãos de saúde, ajudando a entender o perfil dos casos e a capacidade de atendimento de toda a Serra, adotando os mesmos parâmetros analisados pelo governo do Estado para definir as cores do bandeiramento. Assim, conseguimos reverter diversas vezes as situações em que fomos colocados na bandeira vermelha.
Existe uma convicção por parte do CIC-BG de que somente com a união de esforços de lideranças é possível atravessar de forma positiva 2021?
Capoani: Bento Gonçalves amadureceu muito nos últimos anos. Já faz algum tempo que estamos atuando de forma colaborativa entre o poder público e a iniciativa privada. Não tenho dúvidas de que essa é a melhor forma para que toda cidade se beneficie, traçando metas e objetivando resultados.
Qual foi o prejuízo para a entidade com o cancelamento de eventos importantes para Bento Gonçalves?
Capoani: Foi um misto de tristeza e decepção para nós. É muito doloroso precisar adiar uma feira como a ExpoBento, pois sabemos como os expositores aguardam esse evento que gera alta carga de expectativa e de resultados. Nós tentamos até o último momento, mas o quadro que se sucedeu realmente não nos ajudou. Se o adiamento não era a melhor solução, olhando hoje temos a certeza que foi a solução mais adequada que poderíamos ter tomado. Precisamos das pessoas seguras, com a saúde em dia, esse foi o grande pensamento, manter público e expositor seguros. Da mesma forma ocorreu com a Fenavinho. A Fenavinho é alegria, é povo na rua, é festa, e as condições para realizá-la não apareceram. Conseguimos fazer algumas ações virtuais, mantendo a divulgação dos eventos, e podemos garantir que vamos fazer uma ExpoBento e uma Fenavinho inesquecíveis em 2021.
Qual avaliação o senhor pode fazer quanto a 2020?
Capoani: Foi um ano muito difícil, mas de muito aprendizado. É verdade que nunca tínhamos vivenciado algo parecido, mas podemos comparar esse ano, de certa maneira, a outros anos de crise, guardadas as proporções. Sempre quando temos um ano atípico, aprendemos muito. Dessa forma, o ano 2020 nos trouxe muita coragem e determinação, percebemos o quanto a força coletiva nos faz superar as adversidades, revimos conceitos em gestão, confirmamos como os canais digitais são indissociáveis dos negócios físicos. Temos que ter sempre a visão positiva das dificuldades, porque elas também apresentam soluções. E muitas vezes, como estamos imersos no que é tradicional, não enxergamos formas de melhorar processos e produtos com os quais já estamos acostumados.
Qual é a expectativa para 2021?
Capoani: Nossa expectativa é positiva, de muito otimismo. Desejo ótimas festas de final de ano, e que as famílias possam refletir muito sobre tudo o que está acontecendo, no sentido de crescermos como seres humanos. Passamos por muitas situações complicadas que também oportunizaram possibilidades de fazermos mais para o bem coletivo. Certamente teremos a vacina ainda no primeiro trimestre do ano e isso dará uma garantia muito grande para que tenhamos vidas preservadas e segmentos econômicos em pleno funcionamento. Isso não significa que podemos relaxar com a pandemia, pelo contrário. Precisamos continuar adotando todos os protocolos de prevenção, já que os números não estão satisfatórios e não podemos correr o risco de piorá-los. Sabemos que todos estão cansados disso, mas precisamos, neste final de ano, não se aglomerar, usar máscara e álcool em gel de forma muito responsável. A saúde é sua, mas a responsabilidade é de todos. Se todos se cuidarem, ajudaremos a reduzir os números de casos e de óbitos, ajudaremos a desafogar os hospitais e, principalmente, ajudaremos a manter vidas. Se isso acontecer, nossa vida já melhora e a expectativa da vacina só corrobora que 2021 será, de fato, um novo ano.
Presidente da Movergs, Rogério Francio
Neste ano, a Movergs e o Sindmóveis anunciaram a unificação administrativa. O que isso significa na prática para as entidades?
Francio: Desde outubro, as duas maiores entidades representativas do setor moveleiro no estado, a Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e o Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), ambos com sede em Bento Gonçalves, unificaram suas administrações. A decisão leva em conta a necessidade de otimizar os recursos humanos e financeiros das entidades. Cada entidade continua com suas diretorias e ações, como exemplo o Sindmóveis mantém a realização da Movelsul e a Movergs a realização da FIMMA Brasil. Nos últimos cinco anos, as entidades estreitaram seus laços, atuando conjuntamente em demandas políticas e administrativas em prol da indústria moveleira, especialmente após a inauguração do novo Centro Empresarial de Bento Gonçalves, inaugurado em 2017.
De que forma a pandemia afetou o setor moveleiro e qual sua observação sobre o atual cenário econômico?
Francio: Entre março, abril e maio afetou diretamente as indústrias com a parada das atividades em função de lockdown, gerando perdas que variaram entre 30% e 80%. A pandemia também afetou a produção, que ainda não conseguiu acompanhar o forte aumento de vendas. Há um descompasso entre oferta e demanda, o que freia uma recuperação mais consolidada, causou alta nos custos e empurrou todos os estoques para baixo. Hoje o setor está sofrendo com a falta de insumos de produção e grande aumento nos seus preços em decorrência desse cenário, em especial os painéis de madeira, principal matéria-prima para a indústria de móveis. O setor já retornou aos níveis de produção e empregos pré-pandemia. Dados do IBGE mostram que o volume de vendas de móveis fez do segmento o que mais cresceu no varejo brasileiro por dois meses consecutivos (agosto e setembro) nas comparações com os mesmos meses do ano passado. A variação acumulada no ano já tem alta de 8,8%, quando comparada ao período de janeiro a setembro do ano passado.
Quais foram as estratégias adotadas pela Movergs para driblar essas dificuldades?
Francio: Desde o início da pandemia, a Movergs esteve engajada com outras entidades locais, estaduais e nacionais, especialmente a Abimóvel, no sentido de trabalhar alinhada com determinações e assim cooperar diante da gravidade da pandemia. Dentro do que nos cabe como entidade, não medimos esforços para articularmos medidas em benefício do setor moveleiro gaúcho. Como medidas imediatas: Em março, enviamos ofício ao governador do Estado, solicitando o adiamento do pagamento do ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, em função da pandemia do Covid-19 e do decreto de calamidade pública anunciada. Também em março, encaminhamos para senadores e deputados federais gaúchos uma série de sugestões, que consideramos como fundamentais para o mantimento das atividades, como mudança no prazo para pagamentos dos impostos federais para 90 dias – IPI, PIS, COFINS, INSS e FGTS; aumento/dilatação dos prazos dos contratos de ACCs para 540 dias, dos contratos de PPEs para 360 dias; desconto da parcela patronal do INSS durante 3 meses; IPI zero nos próximos 3 meses; postergação do recolhimento do FGTS por até 90 dias; aumento da liquidez através da política monetária via redução da taxa de recolhimento do compulsório; abertura de créditos orçamentários extraordinários; prorrogação por seis meses nos vencimentos das parcelas do NCE; aumento do percentual do crédito do Reintegra; aproveitamento integral do Crédito PIS/COFINS; ampliação da desoneração da Folha de Pagamento; flexibilização das regras de suspensão temporária do Contrato de Trabalho. Nesse mesmo documento aos deputados federais e senadores, também enfatizamos a necessidade de redução dos gastos com o funcionalismo público, por meio de cortes de salários do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, visto que todos, de igual maneira, precisam compartilhar as consequências desse momento.
Qual foi o prejuízo da entidade com o cancelamento de feiras importantes?
Francio: A pandemia gerou uma série de incertezas, o que provocou o cancelamento de praticamente todas as feiras nacionais e internacionais em 2020. Como realizadores da FIMMA Brasil, tivemos que tomar a decisão de antecipar a feira de agosto de 2021 para abril de 2021, com o intuito de contribuir para a retomada dos negócios o mais rápido possível no próximo ano. Sem dúvida, a impossibilidade de visitar outras feiras pelo Brasil e pelo mundo e promover a divulgação da FIMMA Brasil gera um impacto na atração de negócios.
Qual avaliação quanto ao mercado interno e o externo?
Francio: Falando de mercado interno, de janeiro a outubro, o crescimento nominal de faturamento do RS foi de 4,1%, o que representou R$ 6,4 bilhões em comparação ao mesmo período do ano passado, demonstrando que a indústria moveleira segue o processo de retomada, iniciada nos últimos meses. O resultado também impactou positivamente na geração de empregos, conforme dados do Novo Caged, no mês de outubro. Quanto ao mercado externo, embora as exportações ainda não tenham recuperado as perdas ocorridas, especialmente no segundo trimestre, os embarques dos últimos meses já atingem os níveis pré-pandemia. O cenário ainda é de incertezas e muita volatilidade, mas boas notícias no mercado internacional, vindas especialmente da retomada econômica, aumento da demanda por móveis e a possibilidade de vacinação no primeiro semestre do próximo ano devem seguir sustentando o crescimento nos próximos meses.
Qual a expectativa para 2021?
Francio: Acreditamos que são boas, visto que 2020 termina, apesar de toda a turbulência, de forma positiva. Com o anúncio de vacina para o próximo ano, estamos otimistas que o Brasil voltará a tomar o rumo do crescimento. Em 2021, de 26 a 29 de abril, realizaremos a 15ª FIMMA Brasil. Dessa forma, acreditamos que poderemos contribuir sobremaneira para o avanço da cadeia produtiva madeira e móveis. MOVERGS: Unir para fortalecer, Renovar para crescer.
Presidente do Sindmóveis, Vinícius Benini
O ano de 2020 está sendo marcado pela pandemia do Coronavírus. De que forma ela afetou o setor moveleiro?
Benini: A pandemia causou uma forte desorganização da cadeia produtiva, com redução da produção, escala e forte queda de estoques. Embora o volume de vendas no varejo de móveis no Brasil tenha reagido fortemente nos últimos meses, a produção não conseguiu acompanhar essa evolução. As vendas se recuperaram de modo mais rápido do que a produção em um cenário de estoques em baixa e pela alta de preço dos insumos dolarizados, o que freia uma recuperação mais consolidada. Ou seja, há um descompasso entre oferta e demanda.
Além disso, a pandemia causou alta nos custos e empurrou todos os estoques para baixo. Hoje, o setor está sofrendo com a falta de insumos de produção e grande aumento nos seus preços em decorrência desse cenário, em especial os painéis de madeira, principal matéria-prima para a indústria de móveis. Mesmo sem o fechamento de dados referentes ao ano de 2020, informações que serão acessíveis somente em fevereiro, índices conhecidos como o Índice de Preços por Atacado da FGV já acumulam alta de mais de 30% de janeiro a novembro.
Quais foram as estratégias adotadas para driblar essas dificuldades?
Benini: Passado o primeiro impacto após o fechamento das indústrias e da própria entidade em março desse ano, o Sindmóveis voltou suas atenções a compreender as perdas que o setor poderia enfrentar e oferecer meios de apoiar o polo moveleiro na busca por alternativas para a manutenção dos negócios.
Focamos em trabalhar pelo desenvolvimento do setor e buscar novos mercados para a indústria moveleira. A entidade fez isso apresentando oportunidades de negócios aos associados por meio de palestras e fóruns online cujo objetivo foi apresentar à indústria moveleira canais de vendas alternativos e formas de acesso a eles. Em sua maioria, essas oportunidades foram focadas no mercado global.
Ao mesmo tempo, os consultores de inteligência e estratégia do Sindmóveis ficaram à disposição para o agendamento de assessorias individuais com associados. Foram cerca de 20 palestras e reuniões com apresentação de cases de sucesso e estratégias de inovação. Além dos inúmeros fóruns e webinares sobre oportunidades de negócios no mercado internacional e e-commerce, também foram realizados cursos rápidos sobre plataformas de informações de mercado gratuitas como ComexStat e Trademap.
Qual foi o prejuízo da entidade com o cancelamento de feiras importantes?
Benini: O Sindmóveis Bento Gonçalves teve aquele que possivelmente tenha sido o principal desafio de sua história, que foi o adiamento de uma edição de Movelsul Brasil com a estrutura toda montada para receber os visitantes. Num primeiro momento, ainda buscando compreender o cenário da pandemia e o impacto para a realização do evento, imaginamos que seria possível a realização ainda em 2020. Contudo, o agravamento da pandemia e o fechamento de fronteiras internacionais nos levou a uma nova e difícil decisão de protelarmos a feira para 2022. Fizemos isso com o entendimento de que a preservação da vida e o bem-estar de nossa comunidade são prioridades. Lamentamos pelas consequências econômicas que o adiamento dos eventos teve para o setor do turismo, gastronomia, para o comércio e a rede de serviços que seriam direta e indiretamente beneficiados pela Movelsul Brasil. Mas o tempo mostrou que foi uma decisão assertiva e todos nós da equipe temos, hoje, o sentimento de que foram decisões tomadas em favor da vida. Além disso, o ambiente de negócios não teria sido favorável ao fechamento de negócios devido às incertezas daquele momento e descompasso entre oferta e demanda. Nossa expectativa é que teremos um evento espetacular em 2022, trazendo soluções para o novo mercado de casa e decoração pós-pandemia.
Qual avaliação quanto ao mercado interno e externo?
Benini: Antes da pandemia, a projeção era de que o ano de 2020 seria de forte crescimento para o setor moveleiro, que foi um dos setores mais impactados pela instabilidade e crise econômica dos últimos anos. Janeiro e fevereiro iniciaram de modo positivo, mas a pandemia do Coronavírus atingiu em cheio o setor. As medidas sanitárias e restrições de circulação de pessoas, fechamento do comércio e indústria derrubaram a produção e faturamento a partir de março. Embora tenha-se evitado demissões em um primeiro momento, com as indústrias optando pelas alternativas e medidas emergências disponíveis, uma das maiores crises da história do setor causou um ajuste na força de trabalho concentrado no segundo trimestre do ano.
O auge da crise na indústria moveleira ocorreu em março e segundo trimestre. Esses meses concentraram as piores quedas no faturamento, produção e exportações para as indústrias. Foram os piores meses da história da indústria moveleira, que sofreu mais do que a média geral da indústria de transformação. A partir de maio e junho, o setor iniciou uma reação que perdurou nos meses seguintes, resultando em uma retomada nos níveis de emprego, produção e exportações pré-pandemia no fim do terceiro trimestre. As razões para tal recuperação passam pela gradual retomada das atividades após as medidas mais intensas de restrições a produção e circulação de pessoas, a demanda reprimida por móveis e sua rápida recuperação, novos hábitos que impulsionaram a procura por móveis, adaptação das indústrias moveleiras ao novo cenário e as medidas emergenciais do governo que auxiliaram na manutenção do consumo.
Em relação ao mercado externo, as exportações de móveis estão avançando. Embora ainda não tenham recuperado as perdas ocorridas especialmente no segundo trimestre, os embarques dos últimos meses já atingem os níveis pré-pandemia, até superando em alguns casos. No polo moveleiro de Bento Gonçalves, que engloba cerca de 300 indústrias dos municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, foram exportados US$ 41,97 milhões de janeiro a novembro de 2020, – uma queda de 3,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Destaque para o desempenho nos Estados Unidos, que está cada vez mais consolidado como o principal destino dos móveis da região, seguido de Peru e Reino Unido. Ao mesmo tempo, no RS, verificou-se uma queda de 14,1% e no Brasil como um todo, queda de 5,3% nas exportações de móveis. O cenário ainda é de incertezas e muita volatilidade, mas boas notícias no mercado internacional vindas especialmente da retomada econômica, aumento da demanda por móveis e a possibilidade de vacinação no primeiro semestre do próximo ano devem seguir sustentando o crescimento nos próximos meses.
Qual a expectativa para 2021?
Benini: O setor moveleiro tem boas perspectivas para 2021 e a expectativa é de crescimento de 4% em termos reais no cenário base. Em termos nominais (sem descontarmos o aumento dos custos, inflação do período), estamos projetando um crescimento de 9% no faturamento da região de Bento Gonçalves e no estado do Rio Grande do Sul. O grande crescimento das vendas em 2020 não foi acompanhado pela produção. Portanto, há muitos pedidos parados em função da falta de matéria-prima. Verifica-se que a atividade econômica segue em trajetória de recuperação, assim como comércio e indústria em geral. Além disso, deverá haver recomposição de estoques.
Considerações gerais.
Benini: O e-commerce já era uma tendência, mas se acelerou de maneira extraordinária durante a pandemia. Os canais online nunca foram tão importantes e as empresas mais preparadas para atuarem com esses formatos foram aquelas que obtiveram e seguem obtendo os melhores resultados.
Presidente do Simmme, Juarez Piva
O ano de 2020 está sendo marcado pela pandemia do Coronavírus. De que forma ela afetou o setor metalmecânico de Bento?
Piva: 2020 foi o ano que vai ficar na história em cada um de nós, seja pela parte econômica, pandemia, pela perda de seres humanos, amigos, pela tristeza que vivemos e a angústia que passamos. Mas o setor metalmecânico começou com boas perspectivas, porque janeiro e fevereiro foram bons, só que em março veio a pandemia e fecharam nossas empresas. Então tivemos muitas reuniões sobre o que poderíamos fazer, mas principalmente foi que conseguimos entre todos empresários, muitos heróis, derem férias aos colegas. Mantivemos os empregos, as demissões foram razoavelmente pequena, porque tiveram uma grande consciência social. Passando isso, julho e agosto começou com produção e pedidos melhores, mas teve uma pressão inflacionária de preço, porque o setor metalmecânico vem sofrendo aumentos abusivos da matéria-prima, tem tubos que aumentou mais de 100%, chapa plana de 60% de aumento, e além desses aumentos, tivemos a falta de matéria prima. E o ano vai caindo, e estamos conseguindo fechar o ano um pouco positivo. Eu diria que vamos fechar entre 1.5 e 2.5% positivo, quando comparado a 2019.
De que forma avalias a carga tributária no Brasil?
Piva: Uma das nossas preocupações é justamente que os deputados e senadores não fazem as reformas tributárias, estruturantes e administrativas do governo e a redução da máquina pública. Isso faz anos que vínhamos avisando e alertando. A população não consegue mais aguentar essa pressão de impostos no Brasil.
O que o setor espera para 2021?
Piva: Para 2021 temos uma perspectiva de crescimento sustentável, não da mesma maneira que terminamos 2019, mas pelo menos vai ser uma economia mais estável. Esperamos que acabe com esses aumentos abusivos e as matérias primas seja mais equilibradas e que realmente possamos gerar empregos. A preocupação do emprego é que as pessoas precisam cada vez mais se qualificar. A indústria 4.0 está chegando, está se ramificando em nosso setor numa velocidade astronômica. Ela vai se englobar em nossa sociedade cada vez mais e assumindo sua particularidade sozinha. A nossa preocupação é que cada um de nós se prepara e pra isso, que leia, estude e procure informações. E assim vamos ter um ano de 2021 muito melhor que 2020, em todos os sentidos, com a vacina. Precisamos evoluir em todos os sentidos, econômicos e sociais.
Qual a expectativa de crescimento para 2021?
Piva: Esperamos um crescimento baseado em 10% para 2021 em nosso setor. Vai ser um ano muito bom. Aproveito para desejar um ano novo de muita prosperidade, união e paz, e cada família possa se reunir, mesmo que longe, mas que estejam juntos, que seja um ano repleto de realizações em todos os sentidos, e que o ser humano possa crescer espiritualmente, muito mais que economicamente, assim teremos uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
Por Rodrigo De Marco
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Edição Kátia Bortolini
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