Ação emergencial anunciada pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), para apoiar trabalhadores de artes cênicas afetados direta ou indiretamente pelas enchentes, o Festival Movimenta Cena Sul iniciou na última sexta-feira (19) com a plateia lotando o Theatro São Pedro para assistir ao espetáculo circense Dalí. O sucesso de público também se repetiu nas outras duas apresentações realizadas durante o fim de semana pelas montagens Onde está Cassandra?, da drag queen Cassandra Calabouço, no sábado (20); e A mulher que queria ser Micheliny Verunschk, da Cia Stravaganza, no domingo (21).
Na cerimônia de abertura, a secretária de Estado da Cultura Beatriz Araujo ressaltou que, na pandemia, os profissionais da cultura foram os últimos a retornar e, nessa crise climática, estão entre os primeiros a voltar ao trabalho: “Que tenhamos um grande festival! O Movimenta Cena Sul será um marco nesse momento de retomada e de resgate”. A diretora artística do Theatro São Pedro, Gabriela Munhoz, destacou a urgência do evento, organizado em menos de 30 dias: “Este festival não nasceu de um sonho, como a maioria dos projetos que a gente desenvolve aqui. Ele nasceu em meio a um pesadelo que, assim como a pandemia, nos deixou em desnorte. E foi dentro desse desnorte que se entendeu que era preciso agir com rapidez. Se naquela noite em que o festival se fez semente em nós a gente estava em parafuso, nessa noite linda a gente está num estado de profunda alegria. Todos nós aqui estamos vivos, batalhando, retomando e acreditando na vida”. A ocasião também contou com a presença do presidente da Fundação Theatro São Pedro Antonio Hohlfeldt e do presidente da Associação Amigos do Theatro São Pedro José Roberto Goldim.
O festival segue até o próximo sábado, dia 27 de julho, com uma programação intensa de artes cênicas para o público aproveitar gratuitamente em diversos espaços do complexo cultural Theatro São Pedro e Multipalco. Os ingressos para todas as sessões já estão esgotados. Aqueles que não conseguiram garantir as entradas antecipadamente podem tentar um lugar no dia do espetáculo, com retirada limitada de senhas, por ordem de chegada, a partir de 30 minutos antes do início de cada apresentação. A agenda completa está disponível no site www.theatrosaopedro.com.br.
PROGRAMAÇÃO DESTA SEMANA
22 de julho
Nesta segunda-feira, o público poderá conferir duas produções teatrais. A primeira é Ubumpuru Transversal – Uma Corpa Marginal, espetáculo cênico-performático-social estrelado pela multiartista AJeff Ghenes, uma travesti não-binária, periférica, racializada, vinda de Veranópolis, no interior da Serra Gaúcha, que traz ao palco lembranças adormecidas da memória coletiva, com narrativas do real e ficcional. A montagem será apresentada no Teatro Oficina Olga Reverbel, às 19h.
Depois, às 20h, no palco principal do Theatro São Pedro, haverá sessão do premiado espetáculo O Inverno do Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III, da Cia Teatro ao Quadrado. A peça, com direção de Luciano Alabarse e atuação de Marcelo Ádams e Margarida Peixoto, desconstrói o texto shakespeariano de Ricardo III e incorpora em sua narrativa vários outros tiranos que, ao longo da História, fizeram mau uso do poder, provocando morte e destruição. Com linguagem cênica contemporânea, provoca os espectadores com sua teatralidade no tratamento dado ao clássico.
23 de julho
A terça-feira inicia com apresentação de Mesa Farta, às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel. O espetáculo do Grupo Pretagô, de São Leopoldo, propõe uma reflexão sobre este lugar-objeto, a mesa, um móvel que é um suporte importante para realizarmos ações simples, porém fundamentais, como beber, rir, chorar, divagar e sonhar.
Em seguida, às 20h, a Transforma Cia de Dança sobe ao palco do Theatro São Pedro para mostrar Ecos, obra que traz para a cena a responsabilidade coletiva sobre Gaia, conceito da Terra como organismo vivo, do ambientalista gaúcho José Lutzenberger. A obra provoca reflexões importantes do que fomos, somos e o que podemos não vir a ser, buscando traduzir, através da poética da dança, a evolução da relação da humanidade com o meio ambiente, a sua harmonia, mas também a dissonância crescente em virtude de uma atitude cada vez mais individualista.
24 de julho
A quarta-feira será dedicada às crianças e aos adolescentes com apresentação às 15h, na Sala da Música, do espetáculo O Sol de Cada Um, desenvolvido pelo grupo Sintonia Teatral, de Santa Cruz do Sul. A peça infantojuvenil, apresentada pela primeira vez na capital gaúcha, conta a história de Vit Trevo, um trevo de quatro folhas que sofre bullying pelos colegas na escola, pois é diferente de todos os outros trevos, que têm três folhas. O personagem principal se entristece com isso, e acaba fugindo de casa. Nessa jornada, ele encontra Ana Kakta e Mateus Menino, que acabam se transformando em seus amigos, dando conselhos e força um ao outro na resolução de suas aflições.
25 de julho
A quinta-feira tem três opções de espetáculos com diferentes temáticas para o público escolher. Às 17h, na Sala da Música, o Núcleo de Póiesis Teatrais apresentará Laysa Taylor: Memórias de uma Diva. A montagem, com texto e atuação de Lohana Valentini e direção de Pablo Fernando Damian, conta a trajetória de sucesso, sofrimento e traumas de uma mulher transexual que guarda muitas histórias do passado. Em cena, ela divide com o público as suas memórias, em uma narrativa cheia de nuances entre o drama e a comédia.
Depois, às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, haverá sessão de Mulheragem, da Cia Dramática. A peça, com concepção e idealização de Juçara Gaspar e direção de Guadalupe Casal, reúne seis atrizes em seis cenas curtas que refazem a memória de mulheres na história e denunciam as violências cometidas contra elas. Poderosas e inquietas, elas foram protagonistas mesmo em épocas contraditórias, lutando pelos seus direitos e conquistando seu espaço.
Quem encerra a noite teatral é o Projeto GOMPA apresentando às 20h, no Theatro São Pedro, o espetáculo Instinto, vencedor do prêmio Ibsen Scope na Noruega. Com direção de Camila Bauer, é uma interpretação contemporânea fragmentada do personagem Brand, de Henrik Ibsen. Misturando teatro, dança, música e artes visuais, questiona os limites da humanidade diante de líderes extremistas e nossa própria capacidade de raciocínio frente aos instintos animais.
26 de julho
Na sexta-feira, a atração será Habite-me, montagem da Líria Cultural, de Morro Reuter, que utiliza teatro de máscaras, danças e bonecos. Conduzido por um fio narrativo musical, a dramaturgia é dividida em três quadros, com elementos de cena que almejam estimular o espectador a sentir e encontrar sentidos na cadeia de personagens que surgem e se desfazem de um quadro a outro, intercalados por um espaço moldável pelo ar, por meio de infláveis, numa alusão à efemeridade do tempo que nos absorve e à inconstância da matéria. A apresentação, que conta com atuação e pesquisa de Carolina Garcia, além da direção e dramaturgia de Paulo Balardim, acontece às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel.
27 de julho
O festival termina no sábado com quatro opções de programações. Serão três espetáculos realizados em diferentes espaços do complexo cultural, além de uma edição especial da feira multicultural Poa Criativa, projeto que reúne marcas autorais, de moda sustentável e produtos criativos, incluindo ainda comidinhas e bebidinhas e uma área kids para as famílias. A feira será realizada das 11h às 18h, na Praça Multipalco, espaço que também receberá apresentação, às 15h, de Zaze-Zaze: Uma Festa para Vavó, montagem de rua assinada pelo grupo Usina do Trabalho do Ator, que gira em torno de uma personagem negra, idosa e pobre, que está no limiar de sua vida e carrega consigo uma história rica em experiências e desafios.
Depois, às 17h, a Concha Acústica será palco do espetáculo Cotidiano Urbano, que destaca momentos da trajetória do Restinga Crew, grupo que nasceu na periferia de Porto Alegre. Com coreografias que unem dança de rua com elementos lúdicos e teatrais, a montagem mostra a realidade dos dias na comunidade, como a lotação nos ônibus, a arte de rua, a cultura hip hop e a vulnerabilidade social.
Encerrando a maratona artística, haverá uma sessão, às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, de Persona, da Ânima Cia de Dança. O espetáculo apresenta Autoimagem e Macho Homem Frágil, as duas últimas obras dirigidas por Eva Schul. Os intérpretes recebem o público carregando espelhos, que também estão pendurados em diferentes locais do palco: o público vê os intérpretes e a si como parte da obra, mergulhando em imagens e personas em movimento.
Mais sobre o festival
A programação, com nove dias ininterruptos, destaca importantes montagens produzidas em sete cidades do Rio Grande do Sul, incluindo espetáculos premiados e com extensa trajetória, assim como produções mais recentes, todos escolhidos por uma criteriosa curadoria, após avaliação de mais de 150 inscritos. Foram 15 produções selecionadas através de uma chamada pública, utilizando critérios como consistência da concepção artística, criatividade e inovação, assim como a trajetória da equipe do espetáculo e a realização de ações afirmativas com inclusão e protagonismo de grupos sociais sub-representados. Participaram da curadoria representantes do Instituto Estadual de Artes Cênicas (IEACEN) e da Fundação Theatro São Pedro (FTSP), além de seis profissionais da cidade civil com atuação na área: lda Celina, Zé Adão Barbosa, Rafael de Moura, Pedro de Camillis, Natália Dornelles e Silvia Maciell.
Antes de todas as apresentações, o público ainda tem sido recepcionado por performances especiais realizadas por 27 artistas circenses contratados pelo IEACEN. Além dos espetáculos, o evento emergencial ainda contempla quatro oficinas virtuais, destinadas a 160 profissionais de arte cênicas, assim como a seleção de 30 intervenções artísticas que serão realizadas nos municípios do Estado entre os dias 16 de agosto e 1º de dezembro. Com todos esses desdobramentos, o projeto prevê oportunidades para cerca de 300 trabalhadores do setor, além de impactar mais de 10 mil espectadores pelo território gaúcho.
O Festival Movimenta Cena Sul tem realização da Associação Amigos do Theatro São Pedro (AATSP), apoio da Fundação Theatro São Pedro (FTSP) e do Instituto Estadual de Artes Cênicas (IEACEN) – instituições vinculadas à Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac), apoio cultural da Associação de Produtores de Teatro do Brasil (APTR) e SP Escola de Teatro, e patrocínio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul).
SERVIÇO
Festival Movimenta Cena Sul
De 19 a 27 de julho
Em diferentes espaços da Fundação Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, S/N – Centro Histórico, Porto Alegre/RS)
Os ingressos para todas as sessões já estão esgotados. Aqueles que não conseguiram garantir as entradas antecipadamente podem tentar um lugar no dia do espetáculo, com retirada limitada de senhas, por ordem de chegada, a partir de 30 minutos antes do início de cada apresentação
Os espetáculos têm tradução em Libras (exceto O Inverno do Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III)
Mais informações em www.theatrosaopedro.rs.gov.br
Foto: Alexei Willy
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