Por Conexão PSI
Este ano, por ocasião das Olimpíadas, presenciamos o ocorrido com a ginasta Simone Biles*, que diante de tamanha pressão, preferiu se resguardar e desistiu de disputar provas finais, alegando priorizar sua saúde mental.
“Temos que proteger nossas mentes e corpos, não é apenas ir lá [competir] e fazer o que o mundo quer que façamos. Nós não somos apenas atletas, no fim do dia nós somos pessoas e, às vezes, temos que dar um passo atrás”, afirmou a norte-americana.
Não é a primeira vez que vemos situações envolvendo esportistas/times sofrerem derrotas por reações psicológicas frente às exigências e pressões. Isso nos faz pensar que o aspecto psíquico é de fundamental importância, inclusive no esporte, acompanhando o trabalho físico. Na era da modernidade, o avanço das ciências naturais promoveu uma divisão no estudo e na compreensão entre mente e corpo. Atualmente vem ficando cada vez mais evidente, contudo, que a dimensão psicológica se mostra como fator fundamental, algo que se coloca entre nós e nossos objetivos, potencializando ou enfraquecendo nosso desempenho, mesmo que não sejamos esportistas.
Como podemos entender situações como essas? Como podemos compreender melhor os sentimentos e emoções que experimentamos em nosso cotidiano?
Ansiedade e depressão têm sido palavras muito presentes em nosso cotidiano e utilizadas, muitas vezes, de forma indiscriminada para explicar coisas que nem sempre compreendemos bem. Na clínica psicológica, cada vez mais, temos recebido pessoas que usam a expressão “depressão” para explicar qualquer tipo de sofrimento psíquico. Estar triste por um luto, uma perda de relacionamento, um mau momento no trabalho, costumam ser definidos como “depressão”. Não é muito diferente da “ansiedade” ou do “estresse”. Aquele sofrimento que é produzido por estarmos sob pressão, vivendo ou assumindo algo que vai além das nossas capacidades psicológicas em um dado momento, é logo traduzido como doença.
Esse hábito de “diagnosticar” a vida é um produto da contemporaneidade. Vivemos em uma sociedade de ritmos acelerados, cujo valor está em produzir e consumir, com a maior agilidade possível. Ao lado disso, temos de estar sempre felizes e pensar “positivo”. Queremos ter prazer e não aceitamos muito bem a dor, nem mesmo as dores inerentes à existência humana. Nesse contexto, a tristeza e a ansiedade passam a ser vistas como algo errado, como doença. E o risco: buscarmos soluções mágicas, muitas vezes através de rituais, procedimentos e pílulas milagrosas, negando ou recusando a necessidade de pensar. Parar e pensar. E, se necessário, mudar.
Perceber que estamos sofrendo não significa que estejamos doentes. Ao contrário, identificar, reconhecer nosso sofrimento, bem como pedir ajuda para melhor lidar com os desafios da vida, é sinal de saúde mental. Simone Biles, provavelmente fez isso, contrariando as expectativas de milhares de pessoas. Do ponto de vista individual, ela revelou, com sua atitude, que precisa encontrar um equilíbrio entre o que ela deseja e o que os outros esperam ou desejam dela. Adoecer, ao contrário, é estar em desequilíbrio ou vivendo conforme o desejo alheio ou – do outro lado da moeda – infligindo ao outro, autoritariamente, nossos desejos, o que acarreta inúmeros conflitos nas relações interpessoais.
Qual seria então o “match point”? O gol? O ponto que pode nos levar à vitória? Uma vida com reflexão e escolhas conscientes, em que sejamos sujeitos da nossa própria história, em que possamos ser livres e flexíveis no sempre surpreendente jogo da vida.
*Simone Arianne Biles é ginasta artística profissional dos Estados Unidos, grande símbolo e favorita dos Jogos, que após desempenho abaixo do esperado, preferiu ficar na reserva (25 medalhas em mundiais, 19 de ouro).
Em muitos momentos, precisamos de auxílio profissional para entendermos nosso sofrimento ou para identificarmos quadros sintomáticos e doenças mentais. Se quiser compreender melhor a si mesmo, modificar algo que esteja limitando sua vida ou causando muito sofrimento, não hesite em procurar um psicólogo ou um médico psiquiatra. Esses são os profissionais habilitados para o diagnóstico e tratamento do sofrimento psíquico e transtornos mentais.
O tratamento do sofrimento psíquico se faz com Psicoterapia e, por vezes, com medicações. A psicoterapia auxilia no autoconhecimento, na tomada de decisões, no tratamento de comportamentos desadaptativos, na resolução de conflitos interpessoais, no autocontrole e regulação emocional, no tratamento de traumas, no tratamento da dependência química ou de álcool, entre outros. Procure profissionais habilitados, psicoterapeutas com formação em Psicologia ou Psiquiatria.
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