Leio que no centro de nossa galáxia mora um Buraco Negro, um ralo supermassivo que a tudo traga, com o peso de quatro milhões de Sóis. Um poço sem fundo do espaço-tempo, de onde nem a luz escapa. Mas não vamos criar alarde por nada: ele está a 26.000 anos-luz de nossa querida Terra. E, explicam os astrônomos, parece estar adormecido, se contentando em fazer pequenos lanchinhos de gás e poeira nas imediações. De sorte, que, pelo menos por enquanto, não há motivo para pânico, tampouco para vender os bens.
Falando em buraco, prefiro aquele de “Alice no País das Maravilhas”. A toca do Coelho Branco, por onde caiu Alice, nos abre o mundo da fantasia, da imaginação, das perguntas e respostas que nos fazem pensar. O buraco mágico inventado por Lewis Carroll, depois de tanto tempo, segue a nos provocar. Um buraco sábio, com toda a certeza.
Às vezes, é preciso cair em um buraco para pensar melhor, como aconteceu com Alice. Noutras, pensar muito é que nos leva para o buraco. Como ocorreu com Heráclito, o filósofo grego. Aquele do ditado de que não nos banhamos duas vezes no mesmo rio. Pois é, conta a lenda que o sábio andava pelas ruas de Éfeso sempre olhando para o céu, buscando respostas para o sentido da existência. Não deu outra: um belo dia caiu em um buraco e ficou lá preso. Coitado, virou chacota na cidade. Ficou conhecido como o “filósofo do buraco”.
Isso me lembrou de outra história célebre, a Caverna de Platão, que não deixa de ser um buraco. Talvez a alegoria filosófica para a existência mais perfeita já escrita. O mito da caverna nos mostra a ilusão do conhecimento humano, e como julgamos saber muito mais do que na realidade sabemos. De como nossas ilusões e paradigmas embaçam o raciocínio. A parábola de Platão ensina que, para enxergar mais longe, é preciso abandonar a caverna de ignorância que habitamos. E que julgamos ser a única que existe.
É preciso, antes de tudo, sair do buraco.
Por Rogério Gava
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