A força e a resiliência da mulher no mundo dos negócios ganharam destaque no 1º Encontro da Mulher Empreendedora – “Mulheres que Acontecem”, um evento que reuniu cerca de 200 mulheres empreendedoras do movimento lojista do Rio Grande do Sul. Realizado no Hotel Plaza São Rafael, ao longo da terça-feira (17/10), foi um tributo à influência inegável das mulheres no mundo organizacional. Dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora, que mostram o Brasil como o sétimo no ranking de empreendedorismo feminino, foram lembrados durante o encontro.
“É evidente que as mulheres estão conquistando posições de destaque na liderança empreendedora, contudo, é imprescindível continuar buscando equidade. Atualmente, as estruturas familiares abrangem uma diversidade de formatos, frequentemente com as mulheres desempenhando o papel de principais provedoras de suas famílias”, afirmou a diretora do Comitê Mulher Empreendedora da Federação Varejista do RS, Débora Balbinotti.
O presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, Ivonei Pioner, salientou que o diálogo é, de fato, a chave para resolver os conflitos.
“Esse encontro é um reflexo do nosso compromisso em promover conversas construtivas e produtivas, com o intuito de aprender uns com os outros e, especialmente, com a notável sabedoria feminina que está conquistando um espaço significativo. Fomos pioneiros no país ao estabelecer uma pasta dedicada à mulher empreendedora, demonstrando nosso compromisso com a equidade e o reconhecimento de suas contribuições inestimáveis. Acredito que as mulheres estão à frente de seu tempo, liderando com visão e coragem, e é nosso dever aprender com essa vanguarda e seguir seu exemplo”, disse.
A primeira palestra do dia foi de Arthur Bender, criador do conceito de Personal Branding no Brasil, com mais de 35 anos de experiência em branding. Na sua fala, ele destacou o poder da liderança feminina, proporcionando reflexões.
“Não é sobre vaidade, mas é sobre a transformação que podemos operar por onde passamos. Quando estamos há muito tempo fazendo o mesmo, ficamos cheios de certezas e assim não percebemos o diferente. Então a inovação geralmente vem de fora dos nossos ciclos. Fora da bolha é onde estão a maioria das respostas. Além disso, as mulheres possuem uma capacidade natural de serem multitarefas. Vocês lidam com as emoções muito melhor do que os homens. Formam uma conexão com muito mais força”, disse.
Mulher na política
O espaço seguinte contou com a mediação da diretora de Relações Institucionais e Governamentais da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, Clarice Strassburger. Dois nomes de destaque foram trazidos no evento. A primeira a falar foi a Delegada Nadine, a primeira mulher Chefe de Polícia do Estado em quase 180 anos de Instituição e, em 2021, eleita por aclamação, presidente do Conselho Nacional de Chefes de Polícia (CONCPC). Ela contou obstáculos que precisou superar nessa jornada.
“O legado que procuro traçar dentro do universo das forças de segurança é esse. Estou falando de um ambiente predominantemente masculino, onde as primeiras mulheres a ingressarem na segurança pública foram designadas para revistar mulheres suspeitas. Recordo-me de um concurso público para delegadas de polícia no qual as questões incluíam pedir o nome completo de Pelé, Garrincha e dos 11 jogadores da seleção brasileira, como se isso fosse relevante para o cargo. Perguntas claramente excludentes da época, mostrando como não nos sentíamos parte do mundo do futebol. Hoje, orgulhosamente, podemos nomear pelo menos metade dos jogadores da seleção brasileira. Minha trajetória foi construída com o firme propósito de criar legados e desafiar as barreiras”, contou.
A palestrante lembrou ainda uma dura realidade relacionada aos casos de violência contra a mulher. Uma a cada três mulheres de negócios já enfrentou abusos do companheiro ou outro familiar. Um dos elementos fundamentais para mudar esse quadro é a autonomia financeira. Estudos mostram que essa condição ajudou 48% das vítimas a abandonar a relação abusiva. Hoje, 72% das mulheres empreendedoras avaliam que são total ou parcialmente independentes financeiramente e, por isso, são mais independentes em suas relações conjugais.
“Mesmo que me dissessem repetidamente que as mulheres eram as mais vulneráveis e que a violência contra elas ainda era uma realidade atualmente, eu não acreditava plenamente. A cada dia, essa realidade tornou-se mais evidente para mim, especialmente quando descobri que, somente nesta capital, 40 mulheres por dia eram vítimas de violência. Esse despertar para a violência de gênero tornou-se uma das minhas causas e propósitos, uma missão para defender outras mulheres. Mais do que isso, meu objetivo é infundir nelas a esperança de que podem ser protagonistas de suas próprias histórias, inclusive como empreendedoras. Enquanto estamos aqui debatendo negócios e empreendedorismo, é fundamental lembrar que, neste exato momento, mulheres estão sofrendo algum tipo de violência nas mãos de seus parceiros e cônjuges. Apenas no primeiro semestre deste ano, 40 mulheres perderam suas vidas no estado do Rio Grande do Sul, e, lamentavelmente, 80% delas não conseguiram buscar ajuda ou relatar o ocorrido. O trabalho árduo continua para conscientizar e apoiar essas vítimas”, disse.
Na sequência, a convidada deputada, Any Ortiz, compartilhou de forma online mensagem sobre o universo feminino.
“Minha jornada no empreendedorismo e na política tem sido moldada por duas influências fundamentais: a liderança feminina na minha família e a paixão pelo varejo e comércio. Venho de uma linhagem de mulheres fortes e à frente de seu tempo, com minha avó sendo um exemplo notável dessa liderança. Ela não apenas inspirou a família, mas também fundou uma empresa, marcando um legado que estou orgulhosa de continuar. Aos 19 anos, iniciei meu primeiro empreendimento, um mercadinho de bairro, e mesmo quando minha carreira tomou diferentes direções ao longo dos anos, nunca me afastei do comércio. Nasci com a paixão pelo varejo enraizada em mim. Hoje, como deputada federal e presidente da Frente Parlamentar pelas Mulheres Empreendedoras, tenho um compromisso ainda maior em promover um ambiente de negócios favorável às empreendedoras. Embora o empreendedorismo não deva ser limitado por gênero, somos plenamente conscientes das barreiras que muitas mulheres enfrentam. Sabendo que 49% dos lares brasileiros são liderados por mulheres, reconhecemos a importância do empreendedorismo feminino na sociedade, disse.
A força e o poder do emocional na atualidade foi uma das lições transmitidas por Jô Lima, palestrante especialista em temas como desenvolvimento comportamental, cultura emocional, liderança e gestão de pessoas.
“O aspecto emocional desempenha um papel fundamental em nossa sociedade em evolução, uma sociedade que busca aprimoramento espiritual. O que nos diferenciará nesse processo de transformação é nossa capacidade de compreender e cultivar nosso lado emocional. É essencial que tenhamos consciência disso para prosperar e se destacar no cenário atual”, afirmou.
Ana Carolina Bortollini, foi a atração seguinte contando detalhes da operação da Tudo em Grãos. A empresa começou como uma loja de produtos naturais em Caxias do Sul, apostando na oferta de venda a granel como seu diferencial. Em junho de 2014, abriu sua primeira loja com essa proposta. O modelo de venda a granel foi bem-recebido pelos clientes, levando-os a expandir para uma segunda loja no final de 2014. Em março de 2015, inauguraram a segunda loja em uma nova localização. Iniciaram a estruturação de um sistema de franquia e abriram a franquia piloto em setembro do mesmo ano, na cidade de Passo Fundo, RS. Entre março e abril de 2016, novas franquias foram inauguradas, fortalecendo a marca e seu compromisso de compartilhar produtos naturais e saudáveis, incluindo grãos, sementes, cereais, frutas secas, chás, temperos, produtos orgânicos e mais.
Por fim, o público acompanhou a fala de Maria Anselmi, fundadora e CEO da Malharia Anselmi, uma empresa com mais de 40 anos de mercado. Ela apresentou o tema “Como construir uma Trajetória de Sucesso” detalhando os caminhos percorridos na construção da malharia que iniciou em um pequeno cômodo de casa, em Farroupilha, na Serra Gaúcha.
“Sempre mantive uma abordagem honesta com os meus clientes. Se um cliente me questionasse sobre a venda de uma peça, eu não conseguia afirmar que era vendável se soubesse que não era. Eu valorizava a confiança mútua e o relacionamento com meus clientes, e, por isso, nunca me permiti vender algo apenas para me livrar do produto, prejudicando o cliente. Ao longo do tempo, enfrentei críticas e rótulos como “ingênua” ou “boba,”, mas preferi que me chamassem assim a comprometer meus princípios”, contou.
O Comitê da Mulher Empreendedora da Federação Varejista do RS cumpre o papel de promover o desenvolvimento e fortalecimento das mulheres empreendedoras, oferecendo suporte, capacitação e networking para impulsionar seus negócios. Em sua fala, relatou a importância da honestidade com os clientes.
Redação: Marcelo Matusiak e Alison Rodrigues
Coordenação: Marcelo Matusiak
Foto: Diego Dias
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