As apresentações do espetáculo Revisitando a Semana de 22 tem superado as expectativas. A encenação, resultante da aprovação do projeto Fundo Municipal de Cultura (Edital 01/2022/Novos Caminhos da Cultura), proposto por Eunice Pigozzo, intercala informações históricas sobre a Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em 1922, com outras intervenções culturais.
Através de diálogo entre os protagonistas Douglas Ceccagno e Daize Correa Figueredo, caracterizados com roupas da época, são ressaltadas informações sobre o legado histórico deixado ao Brasil pela Semana da Arte Moderna. O diálogo é intercalado por intervenções artísticas do pianista Rafael Rigo Vignatti, tocando Villa Lobos, de New Guss cantando rap, de Pedro Festa dançando breaking. O cenário, composto por grafites de Bernardo Duarte e por representações da arte indígena e africana, foi idealizado por Eunice Pigozzo. A sonoplastia está a cargo do DJ Dympz. Já o figurino é assinado por Deise Ceccagno.
A estreia foi no último dia 26 de junho, no Auditório do IFRS. Na segunda feira, 3 de julho, ocorreu a segunda apresentação, na Escola Municipal de Ensino Médio Alfredo Aveline. Após a apresentação, de cerca de uma hora, a plateia é convidada a questionar sobre os temas abordados na encenação. A mediação é coordenada por Eunice Pigozzo, com a participação do elenco. O terceiro espetáculo ocorreu no dia 8 de julho, às 17 horas, no pub Teia Cultural. A quarta e última apresentação foi no dia 10 de julho, das 8 às 10 horas, na Escola Estadual Dona Isabel.
Reunião de tendências estéticas
A Semana da Arte Moderna reuniu, no Teatro Municipal de São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro de 1922, escritores, músicos e artistas visuais, com o objetivo de valorizar a cultura e a identidade nacional nos campos das artes. As novas tendências que floresciam com as vanguardas europeias, no início do século xx, deram aos artistas brasileiros a possiblidade de trabalhar com novas linguagens, materiais e propostas para renovar a produção nacional.
Apresentações musicais e conferências se intercalavam às exposições de escultura, pintura e arquitetura, com o intuito de introduzir ao cenário brasileiro as mais novas tendências da arte. Pinturas e esculturas ficaram expostas no saguão do Theatro e causaram grande escândalo ao gosto público da época; Reunião das tendências estéticas que tomavam forma em São Paulo e no Rio de Janeiro desde o início do século, a Semana de Arte Moderna também revelou novos grupos, novos artistas, novas publicações, tornando a arte moderna uma realidade cultural no Brasil.
Hoje, poderia ser a letra de um rap
Decorridos 100 anos, novos debates surgem em torno da real abrangência e importância do evento, em sua época. Para a diretora artística do Theatro Municipal de São Paulo, Andrea Saturnino “os modernistas eram burgueses que se revoltaram contra a burguesia. Eu gostaria de ver isso acontecendo hoje. Um poema como ‘Ode ao burguês’, do Mário de Andrade, hoje poderia ser a letra de um rap”.
Proposta multicultural
Nos meses de maio e junho deste ano, foram realizadas mediações com professores das escolas parceiras do projeto para a contextualização dos quatro espetáculos previstos, coordenadas pela acadêmica do curso de Letras, Daize Correa Figueredo. Os docentes, nessas prévias, ampliaram seus conhecimentos sobre a importância da proposta multicultural como meio de transmissão de ideias e valores para posterior repasse aos estudantes. Ao final das mediações, as escolas receberam exemplares dos livros “Modernismos 1922-2022”, organizado por Gênese Andrade com consultoria de Jorge Schwartz, e “Nossa Casa – Cypher Vico”, de Bruna Ferreira.
Imersão artística
“Reunimos artistas e pensadores para juntos imaginarmos quais seriam as tendências atuais de oposição ao conservadorismo na arte 100 anos após a Semana 22: mais plural, menos centralizado, mais inclusivo? Se a Semana de Arte Moderna acontecesse hoje, que pessoas reuniria?”, indaga a proponente do projeto, Eunice Pigozzo. Ela acrescenta que “o município de Bento Gonçalves, inserido no cenário nacional como um dos maiores polos culturais e turísticos, merecia essa imersão artística para entender as motivações estéticas do modernismo e os desdobramentos culturais após a passagem de cem anos do evento”.
Foto: Hélio Alexandre
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