Final de fevereiro… o sol já mudando seu brilho, retomada gradual das atividades e ainda em contexto de pandemia, não teremos o Carnaval como conhecemos no Brasil. A vida segue seu curso da maneira possível, mas segue.
Após tantos ajustes, as escolas voltam a receber presencialmente as novas gerações, sedentas por encontro, pelo conforto da rotina e da normalidade, que nem sabiam ser tão valiosas e que muitos pequenos nem conheceram ainda. Seguem os rituais de higienização, cuidados e certo distanciamento, para que não se vá por água abaixo todo o zelo que tivemos até então pela vida.
Com as águas de março, já seguimos para o desfecho do primeiro trimestre de 2022. Momento de recomeços, enfrentamentos, não apenas da rotina, mas de nossas emoções e sentimentos, universo afetivo que tem sido coletivamente tão exigido desde 2020.
Não estamos no início de um ano qualquer, mas de um terceiro ano atípico, com acréscimo de exigências para dar conta de tudo o que não realizamos ou vivemos durante a pandemia. Se em 2020 nos apresentassem o panorama de dois a três anos, mais de 700 dias de vida restrita, com certeza seria excessivo para nosso psiquismo imaginar tanto tempo de privações e risco real e iminente à vida. Mas dia a dia, em doses homeopáticas, passamos por isso, vivendo a conta gotas.
Voltamos ao trabalho, ao estudo, à vida familiar com elementos novos, mais calejados, mais conscientes de como é realmente a vida, cheia de surpresas, mesmo que desagradáveis. Experimentamos limitações em todos os níveis socioeconômicos e de maneira igual entre as gerações.
Agora nos defrontamos com as necessidades advindas deste período que nos transformou como pessoas e como humanidade. Em todos os lugares do planeta, o ser humano e suas instituições reúnem forças para prosseguir com o que aprenderam em direção ao que ainda será necessário aprender, aliás, como sempre foi.
Elementos como esperança, fé, solidariedade, empatia, paciência, compreensão, seguem primordiais para que possamos avançar, apesar da sensação de tempo perdido e urgências mil. Vamos recorrer aos recursos pessoais e coletivos que temos para o enfrentamento de mais este momento difícil e importante de superação e caminhar em direção à luz no fim do túnel, que já podemos avistar.
Aos adultos, também assustados pelas vivências, caberá a difícil tarefa de desenvolver a habilidade de sintetizar as experiências e traduzi-las aos mais jovens, especialmente às crianças, para que a compreensão dos fatos e sentimentos permita seguir sem a assombração do que é desconhecido e incompreensível. É preciso dar continência ao desamparo e ao medo, que se apresentam maiores, para que seja possível lidar com as adversidades diárias, com os conflitos próprios de cada faixa etária, de cada etapa da vida.
Mais do que nunca, é necessário admitir que o universo emocional necessita de atenção e cuidado, sob pena de não conseguirmos viver bem hoje e no futuro. Há traumas e lutos a serem elaborados por crianças, jovens e adultos. O rastro da pandemia segue conosco, necessitando ser ressignificado. Está lançada a tarefa universal de 2022.
É claro que nos perguntamos se teremos condições para tanto. O fato de estarmos aqui, hoje, já nos responde que sim. Sobrevivemos, fomos mais fortes que as dificuldades, temos uma rica bagagem a explorar e o desejo de viver. A vida nos aguarda, com uma variedade de tons, como sempre.
Lembremos do poema, também verso de fado: “Navegar é preciso, viver, não é preciso”.
Fernando Pessoa lembra, em sua obra, esta frase gloriosa dos navegadores, na tradição portuguesa das grandes navegações, descobrimentos, busca por terras novas. A navegação é uma ciência precisa, exata, mas a vida não é um percurso exato, não tem precisão. Muito pelo contrário, nos surpreende com tempestades que se formam repentinamente e das quais precisamos nos salvar com ousadia, esforço, fé e criatividade. Cada momento exige de nós algo novo, para que sigamos vivendo com a maior alegria possível.
Justamente, a criatividade, o novo, a promessa do bem e do melhor nos move. Um dia após o outro, vamos observando as nuvens, as tormentas e o sol retornando no céu azul. Busquemos em nós a certeza do céu azul e o novo que trazemos em nosso íntimo, que permite seguirmos a caminhada, como a que nos espera agora, em 2022.
COLUNA CÉSAR ANDERLE
Responsabilidade
Quando assumimos a responsabilidade por nossas ações, sejam fracassos ou sucessos, por motivos felizes ou não, estamos vivenciando um processo de cura interior.
Muitas pessoas demoram a compreender que são responsáveis por seus atos. Colocam a culpa nos outros ou usam desculpas para acobertar seus próprios erros.
Fico a refletir se não estamos sendo doutrinados a pensar assim. Será que nossas escolas não estariam, de alguma forma, incitando esta conduta? Quero acreditar que não. Porém, cabe a cada educador esta reflexão. E também aos pais e responsáveis o dever de acompanhar os conteúdos repassados aos seus filhos.
Teremos uma sociedade melhor se conferirmos os ensinamentos recebidos nos bancos escolares. Seremos cidadãos melhores se nos posicionarmos em nossas comunidades. Podemos ter uma sociedade mais adequada se cobrarmos, de nossos governantes, ações positivas e com propósito.
O futuro está em nossas mãos. Não podemos nos omitir e simplesmente deixar acontecer, para depois reclamar da situação já decidida pelos outros.
Ter responsabilidade é tomar posse do nosso poder pessoal.
Devemos ter clareza e certeza de que tudo está em movimento, politicamente também. Uma árvore está florida na primavera, mas quando chega o outono ela fica despida. A beleza da natureza, num primeiro momento, transforma-se em feiura, a juventude transforma-se em velhice e nossos erros se transformam em virtude com o passar do tempo.
Podemos pensar que isso comprova a impermanência de tudo nesta vida. Tudo muda, nada fica igual, as aparências e o vazio existem simultaneamente.
Somos parte integrante da natureza. O ser humano cresce e se enche de sabedoria. Mas pode, de igual forma, se encher de vazio, um vazio existencial, sem fundamento, com pouco ou nada a acrescentar para um mundo melhor. Algumas pessoas imaginam que o futuro não depende delas. Acredito muito que o futuro deva ser construído pelas nossas mãos. Juntos, unidos, com visão coletiva, respeitando as ideias e, principalmente, valorizando o bom senso e os bons costumes. Esses, sem dúvida, devem ser “plantados” na infância, regados na adolescência e sacramentados na vida adulta.
Feliz futuro para você!
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